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ANÁLISE-Importação de soja pelo Brasil deve avançar com cautela apesar de taxa zero

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As importações brasileiras de soja tendem a avançar a passos curtos, mesmo após a isenção tarifária para produtos de fora do Mercosul recém-aplicada pelo governo para conter a alta de preços no setor de alimentos, conforme analistas ouvidos pela Reuters.

Na indústria de carnes, onde o milho e o farelo de soja representam até 60% dos custos de produção, algum alívio no peso dessas despesas vai depender das análises de cada empresa, visto que o dólar alto também torna caro o grão que será importado sem tarifa, em sua maioria, dos Estados Unidos.

“Já praticamente não temos soja e, com ou sem TEC (Tarifa Externa Comum), quem não conseguiu garantir estoques até janeiro, antes da entrada da nova safra, provavelmente vai precisar importar… Mas o dólar está alto e encarece a importação”, disse a analista de mercado da consultoria AgRural Daniele Siqueira.

A escassez na oferta no maior produtor e exportador global acontece após fortes exportações brasileiras, além de uma demanda interna robusta.

“Então, enquanto estivermos com o câmbio nesses níveis, só vai importar quem estiver muito necessitado mesmo”, acrescentou.

O governo decidiu zerar no final da semana passada a tarifa de 8% para importação de soja e milho de fora do Mercosul. No caso do cereal, a isenção vai até o final do primeiro trimestre de 2021, enquanto para a oleaginosa é válida até 15 de janeiro.

Isso ocorreu após a soja praticamente dobrar de preço ante o mesmo período do ano passado, para mais de 150 reais a saca, enquanto o milho também disparou mais de 60%, aumentando os custos das indústrias de carnes.

Até o momento, está mantida a projeção da AgRural para as importações da oleaginosa em 2020 em 800 mil toneladas de janeiro a setembro, as aquisições de soja pelo país já somaram 528 mil toneladas, conforme dados do governo, que apontam entre os fornecedores países do Mercosul, principalmente o Paraguai.

A especialista acredita que, se o dólar cair, há possibilidade de ampliar as entradas do grão neste ano, mas evitou cravar novas estimativas de volume.

O analista da consultoria Safras & Mercado Luiz Fernando Roque disse que, após a isenção das taxas, as importações brasileiras podem passar das 850 mil toneladas projetadas para 2020 para até 1 milhão de toneladas.

Segundo ele, “a conta fecha” para a entrada da soja norte-americana com valores ligeiramente mais competitivos do que os do mercado interno. No entanto, não há grandes chances de ultrapassar a marca de 1 milhão de toneladas este ano devido ao quadro de oferta e demanda do setor. Ele evitou falar sobre importações em janeiro, quando normalmente as indústrias aguardam a nova safra para iniciar as atividades.

“Não tem porque as indústrias aumentarem muito mais as importações por enquanto. Em fevereiro devemos ter grandes volumes da nova safra brasileira entrando no mercado”, afirmou Roque.

Ele ainda disse acaba de ser confirmada a compra de 90 mil toneladas da oleaginosa do Uruguai por uma grande empresa do Rio Grande do Sul, com chegada prevista para novembro, o que contribui para reduzir a necessidade de importação do grão dos EUA.

INDÚSTRIA

No caso do milho, que também teve as tarifas isentas, Daniele explicou que a possibilidade de importar sem TEC pode servir de “teto” para os nossos preços no Brasil.

“Se bater no teto, talvez o produtor aceite vender maiores volumes”, disse ela, considerando que não há escassez de oferta do cereal após a colheita da segunda safra.

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, afirmou que no milho o que se vê são agricultores “segurando” as vendas no intuito e manter os preços elevados.

Questionado sobre o impacto da isenção de taxas sobre a indústria de carnes –a entidade foi a autora do pedido de retirada das tarifas na Câmara de Comércio Exterior (Camex)–, ele disse que os efeitos serão sentidos de maneiras distintas para cada companhia do setor.

“O pedido de isenção foi feito para criar uma alternativa (de fornecimento de matéria-prima) ao setor. Agora as empresas estão indo a campo para olhar potenciais vendedores, custos logísticos, etc, vão ter que fazer as contas.”

Santin ressaltou que o principal fornecedor tende a ser os Estados Unidos, que tem capacidade de produção e está em período de colheita, e uma segunda possibilidade mais remota é a Ucrânia.

“Esperamos que esse movimento do governo pare essa espiral de preços altos no mercado interno”, comentou o executivo.

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) avaliou que a redução temporária de tarifas foi uma boa medida, tendo em vista o período de entressafra no qual encontra-se o mercado.

“Os elevados preços da soja aumentaram os preços dos seus processados, pressionando os custos da indústria de proteína animal, do óleo comestível e do biodiesel”, afirmou à Reuters em nota.

A entidade lembrou que cerca de 35% da soja brasileira é industrializada no país, para produção de farelo proteico e óleo vegetal.

Na ponta produtiva, o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz Pereira, avaliou que foi correta a decisão do governo federal de aplicar um prazo limite para a aquisição sem TEC, ao invés de cota.

“O plantio começou a avançar e o prazo até janeiro (para importações isentas) é suficiente. Para uma cota, teriam que saber o tamanho da demanda da indústria e não teriam esse número.”

Já o presidente institucional da Abramilho, Cesario Ramalho, que representa os produtores de milho do país, considera que teria sido adequado o estabelecimento de uma cota para evitar eventuais importações volumosas.

“Não acharia ruim… acho que seria adequado o estabelecimento de uma cota”, afirmou ele, dizendo que o setor confia que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai acompanhar de perto o assunto, para evitar desestímulo entre agricultores, que estão plantando a safra de verão.

De janeiro a setembro, as importações de milho pelo Brasil já somaram pouco mais de 700 mil toneladas, segundo dados do governo, que indicam Argentina e Paraguai entre os fornecedores dominantes.

 

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