Bancos
Campos Neto: “Sem cortes tributários, inflação de 2022 saltaria para 9%”
Presidente do BC adiantou que um corte na Selic agora ‘não atrairia investimentos’
Ao reafirmar a defesa da autonomia do Banco Central (BC), o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto afirmou, nessa quinta-feira (19), em seminário promovido por uma universidade americana, que a inflação brasileira (medida pelo IPCA) em 2022 teria chegado a 9%, não fosse pelos cortes tributários aplicados aos combustíveis e à energia elétrica.
Na avaliação do ‘xerife do real’, a deflação observada no segundo semestre do ano passado foi o efeito da desoneração de impostos sobre os insumos básicos da economia, já citados. “A inflação [oficial pelo IPCA] estaria em 9%, e não em 5,8%, se não fosse essa redução de impostos”, afirmou.
Com relação à taxa básica de juros (Selic), Campos Neto admitiu o patamar elevado em que ela se encontra (13,75% ao ano), mas adiantou que um corte aplicado no curto prazo “pouco ajudaria no sentido de atrair investimentos para o país”.
“Entendemos que nossa taxa de juros está alta, mas não manejamos curva futura, só a meta da Selic. Não ajudaria em nada cortar o juro de curto prazo, porque os investimentos usam taxas de longo prazo”, justificou o comandante do BC, ao emendar a informação de que o Pix (sistema instantâneo de pagamentos) tem despertado interesse de vários países.
Em resposta às afirmações do presidente Lula, que chamou ‘de bobagem’ a autonomia do BC – sob o argumento de que tal independência não teria servido para ‘frear’ a inflação’ – Campos Neto entende que as declarações do presidente devem ser vistas por um “olhar mais amplo, com base na necessidade de a independência [do BC] existir por lei”.
Se você olha a entrevista, de um lado, ele se orgulha por [Henrique] Meirelles [ex-presidente do BC] ter tido independência. De outro lado, o que acho que ele quis dizer foi ‘eu não acho que precisamos ter a independência na lei, pode ter a independência sem a lei e fazer as coisas funcionarem’”, interpretou o presidente do BC.
Com mandato à frente da instituição até o fim de 2024, em que pese as afirmações presidenciais, Campos Neto assinalou que “quando você pensa no que está acontecendo no Brasil e quão difícil foi o processo da eleição no Brasil, acho que o mercado estaria bem mais volátil se o Banco Central não tivesse a autonomia na lei. Seria outro elemento de incerteza”.
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