Agronegócio
Aperto monetário ‘atropela’ vendas de máquinas agrícolas, que caem 13,9% em janeiro
Maiores juros reais do planeta ‘derrubam’ comercialização de bens de capital do agronegócio
O aperto monetário prolongado fez mais uma ‘vítima’ entre o setor produtivo que sustenta a economia (e a política) do país. Ressentidas pela manutenção monolítica dos juros elevados pelo Banco Central (BC) – atualmente no patamar de 13,75% ao ano, que fazem do Brasil campeão mundial no ranking de taxa de juros reais (8,16%), deixando bem para trás, o México (5,39%) e o Chile (4,66%) – a título de ‘combater’ a escalada inflacionária, as vendas de máquinas agrícolas amargaram queda de 13,9% em janeiro último, ante igual mês do ano passado.
No comparativo com dezembro último, o ‘tombo’ foi ainda maior em janeiro deste ano, chegando a 43%, quando foram entregues apenas 3,5 mil unidades aos produtores rurais, aponta balanço divulgado, nesta quinta-feira (2), pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) – entidade que abrange, além das concessionárias de automóveis, revendedores de equipamentos agrícolas.
Embora tenha recorrido, inicialmente, ao eufemismo do termo ‘ajuste de mercado’ para o forte recuo do setor de máquinas agrícolas, o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, acabou admitindo que ‘os juros mais altos’ têm obrigado os produtores rurais a adiar investimentos.
Outra entidade correlata que confirma a tendência regressiva do setor, a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) aponta diretamente a Selic elevada como a causa determinante para que o agronegócio ‘pisasse forte no freio’ na hora de tomar empréstimos, assumindo a posição de cautela. Confirmando tal comportamento, as vendas desses bens de capital teriam ‘despencado’ 30% em 12 meses, chegando ao mais nível baixo em sete anos.
“Vamos perder o primeiro semestre”, sentencia o presidente da câmara setorial de máquinas e implementos agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão, ao explicar que os produtores rurais se mantêm em ‘compasso de espera’ pelas definições do governo federal sobre o Plano Safra, com lançamento previsto para julho. Para ilustrar as dificuldades enfrentadas pelo setor para obter financiamento, o dirigente observa que “há recursos nos bancos comerciais, mas ninguém quer tomar uma dívida de longo prazo com os juros que começam em 16% e vão até 18% ao ano”.
Como alternativa para reverter a anunciada ‘descida da ladeira’ do setor no primeiro semestre, Estevão entende que o governo federal deveria promover um aporte de recursos em favor da atividade. “Essa queda de 30% em janeiro foi assustadora. O recurso do Plano Safra acabou em outubro do ano passado. Ninguém vai comprar máquinas agrícolas com os juros nesse patamar”, adverte.
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