Bancos
Falta de opções para ‘segurar’ inflação condena futuro econômico
Selic elevada se mostra insuficiente para conter escalada inflacionária, já projetada pelo Focus em 6% para 2023
Enquanto o IPCA (índice oficial de inflação) continua em decolagem, os juros básicos da economia (Selic) se mantêm nas alturas e proliferam as manobras federais para abreviar, se possível, a saída de Campos Neto do Banco Central (BC), o fato mais importante é a constatação de que não existe outra ferramenta monetária disponível no país para debelar o ‘dragão inflacionário’, que não seja a de manter altíssima a taxa básica, no atual patamar de 13,75% ao ano.
As discussões nesse sentido se limitam a exercícios de futurologia sobre o ‘timing’ de queda da Selic (ou de Campos Neto? ou as duas coisas?), a princípio, descartada para 2023, mas agora ‘admitida’ para meados deste ano. O problema é que, além de a medida não produzir efeito imediato sobre a economia, também esbarra na estabilidade, não da taxa, mas do mandato constitucional do ‘xerife do real’, que se expira apenas em dezembro do ano que vem.
No paralelo, Campos Neto fez questão de demonstrar sua discordância em relação ao pacote fiscal, ‘costurado’ às pressas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cuja aprovação ainda se sujeitará aos humores de seu chefe, no Planalto.
Para o mercado, o cenário imprevisível, todavia, contém variáveis concretas: como persistem dúvidas e incertezas quanto ao formato do tal ‘arcabouço fiscal’, estas mantêm a expectativa de que o governo Lula será generoso em gastos, tendo em vista quitar o compromisso de campanha, sobretudo juntos aos menos favorecidos. Até aí tudo bem, não fosse o fato de que tal hesitação alimentaria continuamente a inflação, enquanto a economia já dá sinais de esgotamento, ante os juros proibitivos que tornam inacessíveis recursos para financiar o investimento. De resto, ficou a impressão de que o propalado ‘marco fiscal’ possui o único objetivo de baixar os juros ‘na marra’.
Enquanto a celeuma fiscal-monetária não tem um paradeiro, os juros estratosféricas destroem os investimentos produtivos, mas fazem a festa do mercado financeiro. Nunca os bancos ganharam tanto e tão facilmente, para desespero do empresário e das famílias, às voltas com um índices recordes de inadimplência e endividamento.
A despeito do argumento obscuro, no sentido de que a nova regra fiscal (um enigma até agora) servirá para o acompanhamento das contas públicas, no sentido de garantir um ‘horizonte sustentável de longo prazo’ para o investidor, Haddad adiantou que ela será a combinação de Lei de Responsabilidade Fiscal e com o teto de gastos. Ora bolas, se tais regras já existem, porque haveria necessidade de abandoná-las para adotá-las novamente? Marketing político em exercício de mandato? Só o tempo dirá…
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