Agronegócio
Com consumo em alta, biodiesel corre risco de ficar sem matéria-prima
Quebra de safra na Argentina ameaça fornecimento de óleo de soja no país
Um anticlímax. Assim pode ser descrita a perspectiva do setor de biodiesel que, por um lado, comemora a previsão de aumento de 15,5% no consumo nacional (7,3 bilhões de litros) este ano – conforme projeção da empresa de consultoria Stonex – mas, por outro, teme o risco de indisponibilidade, no mercado interno, de sua principal matéria-prima no país, o óleo de soja.
Com a demanda aquecida, sobretudo após a redefinição que aumenta o percentual de biodiesel na mistura com o diesel, cresceu também a preocupação em torno de uma eventual crise de oferta do biocombustível.
O impulso no consumo do biodiesel, por sua vez, decorre da mudança na mistura citada, de B10 (correspondente a 10% do biocombustível adicionado ao diesel), para B12 (12%), definida, em março último, pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A meta é que tal participação chegue a 15% (B15) até 2026.
Em nota, a Stonex assinala que “a safra recorde de soja brasileira deve garantir uma produção também recorde do óleo, mas com as exportações surpreendentemente fortes no 1º trimestre e a quebra de safra na Argentina, há preocupações quanto à disponibilidade da principal matéria-prima para biodiesel no mercado doméstico”.
Na raiz da mencionada crise de oferta está a seca prolongada que arrasou a maior parte das lavouras de soja da Argentina, maior exportadora mundial de óleo e farelo de soja, que agora deverá ser obrigada a importar o item do Brasil, que deverá priorizar as exportações ao país platino.
“A Argentina deve aumentar suas importações da oleaginosa brasileira para conseguir arcar com seus compromissos comerciais. No entanto, parte da demanda global deve ficar desassistida pela Argentina, deixando um share do mercado que pode ser preenchido pelo Brasil”, avalia relatório da Stonex.
Ao mesmo tempo, a consultoria revela que os embarques de óleo de soja no primeiro trimestre deste ano (1T23) já superam aqueles do ano passado, ao totalizarem, até o momento, 654,3 mil toneladas – alta de 46% no comparativo anual e 155% maior do que a média dos últimos dez anos.
No que toca à evolução de preço do biodiesel no curto prazo, a consultoria considera relevante observar o ritmo das exportações do item nesse período. “Desta forma, o acompanhamento das exportações brasileiras, nos próximos meses, será de suma importância para entender melhor como ficará o balanço final do óleo e seu potencial impacto nos preços do biodiesel”, concluiu a Stonex.
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