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Economia

Queda consistente da inflação ainda não garante corte ‘já!’ da Selic

Terceiro recuo seguido do IPCA para 2023 não é suficiente para promoção de ‘alívio monetário’ no curto prazo

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A consolidação da tendência de queda da inflação pelo Boletim Focus – terceiro recuo seguido da projeção do IPCA,  de 5,71% a 5,69% para este ano – divulgado hoje (5) pelo Banco Central (BC), ‘esquentou’ o movimento especulativo em torno do melhor momento para o ‘esperado’ corte da taxa básica de juros (Selic), atualmente no patamar altíssimo de 13,75% ao ano, o que assegura ao país, disparado, o título de campeão mundial de juros reais, sob uma taxa de 8% ao ano.

Coerente com a tese de ‘inflação de demanda’, pregada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, enquanto que o índice oficial de inflação mingua, a conta-gotas, a economia deslancha, avanço sinalizado pelo crescimento de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano (1T23), ante ao anterior.

No entanto, se depender das últimas declarações do ‘xerife do real’, tal corte ainda deverá demorar um pouco mais do que a expectativa geral, cujo argumento seria a lentidão de queda da inflação, por um lado, e a ‘resiliência’ do chamado ‘núcleo da inflação’, tendo em vista a demanda aquecida da economia.

Inflação pode voltar a subir – Na contramão do fluxo crescente de cobranças pelo alívio monetário, o professor do IBMEC RJ, Gilberto Braga admite que a inflação tupiniquim pode, inclusive, subir novamente no segundo semestre do ano (2S23). “O cenário sinaliza nesse momento um processo de queda, entretanto a inflação volta a subir no 2º semestre, tendo em vista que o IPCA deste período do ano passado, no acumulado em 12 meses, foi negativo”, sustenta.

Em relação ao desempenho da economia em 2023, Braga admite “a possibilidade de que tenhamos um PIB maior do que o projetado, muito próximo entre 2,3% e 2,5% no ano de 2023 e aprovação de medidas controle de gastos que estão no arcabouço, em apreciação no Congresso”, acrescentando que “a inflação pode ser considerada hoje sob controle quando combinada com o índice de desemprego mais favoráveis, que mostram também uma estabilidade”.

Queda generalizada de índices – Aos adeptos da redução ‘já’, da Selic, conta a favor a retração generalizada dos principais índices de inflação, a exemplo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) que recuou 0,06 ponto percentual, de 0,57% em abril para 0,51% no mês passado, sem contar a ‘desaceleração’ do IPCA, de 0,71%, em março, para 0,61% em abril. Para reforçar a aparente redução das taxas de carestia, o IPC semanal despencou de 0,45% para 0,08%, da terceira quadrissemana de maio para o mês cheio.

Em contraponto, para o economista da FGV EAESP, Renan Pieri, condescendente ao viés de baixa da Selic, “se observa uma desaceleração da inflação, até alguns indicadores trazendo deflação esse mês, o que indica que a política monetária tem surtido efeito, e que podemos ter queda da expectativa de inflação para os próximos meses. Isso pode sim permitir que o Banco Central baixe a taxa de juros no final do ano, o que já era a promessa”,

Fazendo coro a Pieri, o professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), André Roncaglia, comenta que “o que chama atenção é que, apesar do crescimento acima do esperado, tem um constrangimento grande por parte da política monetária que está com a taxa de juros muito elevada. Pensando na alternativa, o quanto o Brasil poderia ter crescido se tivéssemos taxas de juros mais moderadas?”, questiona.

‘Timing’ do corte é dúvida – Ao considerar como ‘certa a queda da Selic’ – com destaque ao avanço do arcabouço fiscal no Congresso Nacional, como instrumento de equilíbrio das contas públicas – Roncaglia afirma que a “grande discussão é se essa queda se inicia agora ou se um pouco depois, ainda nesse terceiro trimestre”, ao fazer coro à sugestão de corte de 0,25 ponto percentual na taxa, feita pela ministra do Planejamento, Simone Tebet.

“A economia vem crescendo impulsionada pelo fiscal e constrangida pelo monetário. As políticas estão em sentido contrário; o esforço do governo de tentar encontrar marco fiscal que atendesse a diferentes interesses, vai no sentido de tentar desobstruir o canal da política monetária por meio da redução da Selic”, reforça o professor da Unifesp.

Previsão ‘radical’ – Mais radical é a previsão da economista-chefe do TC Investimentos, Marianna Costa, para quem a Selic poderá cair até 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 20 e 21 deste mês, fazendo com que a taxa chegasse de 11,75% no fim do ano.

“O BC persegue a meta inflacionária. O que ele observa agora é que há uma dinâmica ainda de inflação alta, que neste momento está perto de 4%, mas chega perto de 6% no fim do ano seguida de trajetória de queda. (…) Com o PIB um pouco mais forte do que o esperado, faz com que a essa percepção sobre uma melhora na inflação não seja tão verdadeira ou que esteja numa magnitude menor do que era esperado”, conclui Marianna.

Sou um profissional de comunicação com especialização em Economia, Política, Meio Ambiente, Ciência & Tecnologia, Educação, Esportes e Polícia, nas quais exerci as funções de editor, repórter, consultor de comunicação e assessor de imprensa, mediante o uso de uma linguagem informativa e fluente que estimule o debate, a reflexão e a consciência social.

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