Economia
Dólar baixo também é “culpa” do BCB. A inflação agradece até por não puxar as exportações do agro
Com inflação monitorada pelo Banco Central, mercado não compra dólar, e facilita o controle inflacionário, mesmo que o governo declare guerra ao “inimigo” Roberto Campos Neto
Na quarta o governo ganhou duas no Senado e perdeu no Banco Central (BCB). Mas essa derrota tem lá seu sabor de vitória para a economia.
O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75% ao ano e – ou Roberto Campos Neto, como prefere Lula a quem atribui como “inimigo do Brasil” – não se deixou levar pela pressão e pelos indicadores positivos.
Ainda é uma vitória o contracionismo monetário, ainda que custosa para os investimentos produtivos e para o aumento das vendas.
O dólar está no patamar mais baixo em muitos meses também pela insistência do BCB em manter emparedada a inflação, cujo nível de queda, como o de maio, é um dos tais indicadores positivos.
O mercado costuma fugir para a moeda forte quando a inflação está inflexível, sempre foi assim.
Além do câmbio favorável não pressionar as importações, também influi para não disparar as exportações de commodities agrícolas, o que certamente levaria a um aumento dos preços internos pelo enxugamento da demanda.
Em plena pandemia isso foi visto, inclusive em parte de 2022, com a disparada do óleo de soja e aumento dos preços das proteínas animais, pela valorização do milho como alimento.
Até o arroz disparou porque a demanda internacional desviava-o do mercado doméstico.
Dólar menor não interessa nem um pouco aos importadores, que “pagam” mais pelos produtos.
Nesta quinta (22), a divisa americana abriu cedendo novamente, mas agora passa por ajuste de mais 0,10%, a R$ 4,77.
Se virá um corte dos juros em agosto ou setembro, na faixa de 0,25 ponto percentual, talvez a ata do Copom, amanhã, possa dar algum sinal mais claro sobre como anda (ou andará) a “ancoragem” inflacionária – expressão usada no comunicado de ontem.
E enquanto não houver contaminação negativa do cenário externo – como será o comportamento do Federal Reserve (Fed) na próxima reunião sobre os juros nos Estados Unidos? -, segue o jogo favorável em várias partes do campo.
Gasolina e diesel mais baratos, sem pressionar o custo de vida (também por causa do dólar mais baixo); PIB acima das expectativas no primeiro trimestre (mais 1,2%), nova meta fiscal indo de vento em popa no Congresso, após ter passado com galhardia no Senado ontem (uma das vitórias do governo) e agora vai à Câmara quase que sob as bençãos do presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL).
Na semana passada a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) elevou o rating do Brasil de “estável” para “positivo”. Sim, também porque o BCB está no páreo, tentando segurar a inflação com menos dinheiro na praça.
A outra vitória de Lula no Senado, a expressiva aprovação de seu advogado, Cristiano Zanin, a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), por 58 a 18, entra nessa soma, mesmo indiretamente. É um foco a menos de tensão e ratificando que na Câmara Alta o Executivo tem maioria firme para se contrapor à Câmara opositora.
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