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“Meta de inflação em 3% para 2026 afetará economia nos próximos anos”
Para o pesquisador do Ibre/FGV, Bráulio Borges, decisão do CMN torna mais distante ‘pleno emprego’
Crítico de primeira hora da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), que manteve em 3% a meta de inflação para 2026, o economista, diretor da LCA Consultores e pesquisador do Ibre-FGV Bráulio Borges prevê que a medida deverá trazer efeitos negativos à atividade econômica nos próximos anos.
“A política monetária, embora cada vez menos, continuará contracionista até o fim do ano que vem. Isso faz a inflação convergir, mas tem o custo de manter a economia aquém do pleno emprego”, avalia Borges.
Em contraste com a visão dominante entre os demais colegas economistas – o que inclui o próprio presidente do Banco Central (BC), Roberto de Campos Neto – de que a meta de inflação em 3% facilitaria a redução das expectativas de inflação no médio e longo prazos, o pesquisador da FGV entende que, ante à mudança para a meta contínua, em lugar do ano-calendário, a autoridade monetária deveria ‘calibrar’ a política monetária, tomando por base projeções para os núcleos de inflação. “É o núcleo que é sensível à política monetária. Existem vários choques que a política monetária não tem poder nenhum de mitigar”, explica.
Em artigo publicado recentemente, em parceria com o colega Ricardo Barboza, Borges assinala que a decisão do CMN de manter a meta de inflação em 3% deverá limitar o Produto Interno Bruto (PIB) ao nível abaixo do potencial, devido aos juros reais elevados. “Basta olharmos para o Relatório Trimestral de Inflação do próprio BC divulgado nesta semana. Ele mostra que, para levar a inflação para perto da meta de 3% no ano que vem, o chamado hiato do produto, que é a diferença do PIB para o PIB potencial, precisa-se manter no negativo até pelo menos o final de 2024”.
Segundo ele, há, pelo menos 30 trimestres, o chamado ‘hiato do produto’ se mantém no ‘terreno negativo’, ou seja, a economia continua operando abaixo do seu potencial, segundo estimativa do BC, “o que deve impedir a consolidação do pleno emprego até o final do ano que vem”.
Ao sustentar que há “pouca transparência na construção da meta “, cuja definição continua a “ser muito arbitrária” (que agora dispensa o BC de escrever uma carta pública, em caso de descumprimento), o diretor da LCA Consultores lembra que, até hoje, não conseguiu ter acesso, sequer, ao comunicado contendo a decisão técnica que fixou, no ano de 2021, em 3% a meta de inflação para este ano. “Eu tentei obter esse material via Lei de Acesso à Informação. Na primeira resposta disseram que não existia. Na segunda, que tinha sigilo de cinco anos. Tem pouca transparência na construção da meta. É muito arbitrária e não leva em consideração algumas condições que têm mudado no mundo”, finalizou.
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