Home office: conforto sem aumento? Entenda por seu salário pode não subir

Se você está acostumado com a rotina de trabalhar de casa, vestindo seu pijama confortável e esquecendo daquela viagem diária até o escritório, talvez pense que já ouviu tudo sobre o assunto. No entanto, a verdade é que as coisas estão mudando, e o Banco da Inglaterra trouxe algumas novidades que nos fazem ver o home office sob outra perspectiva.

Um olhar diferente sobre o home office

Lançado em 2016, o Decision Maker Panel é uma iniciativa do Banco da Inglaterra em parceria com acadêmicos dos EUA e do Reino Unido. O projeto busca entender como as empresas britânicas lidam com incertezas, entrevistando diretores financeiros e CEOs regularmente.

Uma análise recente dessa pesquisa, envolvendo 2.500 empresas, revelou algo surpreendente sobre o trabalho remoto: pode não ser tão vantajoso para os salários dos empregados como pensávamos.

Contrariando a crença popular de que trabalhar de casa é sempre benéfico para os funcionários, os dados indicam que empresas com altos níveis de trabalho remoto tendem a oferecer menores aumentos salariais. A pesquisa mostra que, para cada dia adicional trabalhado de casa, o crescimento salarial cai em meio ponto percentual.

Essa constatação ecoa previsões anteriores de economistas, que argumentavam que a popularização do trabalho remoto, impulsionada pela pandemia, poderia afetar a dinâmica salarial devido à ampliação do mercado de trabalho para as empresas e à preferência dos funcionários pelo conforto de casa.

Em 2021, os trabalhadores britânicos valorizavam tanto a flexibilidade do home office que consideravam dois dias semanais de trabalho remoto equivalentes a um aumento salarial de 6%. Nos Estados Unidos, a preferência pelo trabalho remoto ou híbrido é ainda mais marcante, com apenas 39% dos empregados desejando voltar ao modelo totalmente presencial.

O lado positivo para os empregadores

Para os empregadores, a notícia do menor crescimento salarial é positiva, refletindo uma possível redução de custos. Além disso, a pesquisa sugere uma ligação entre o trabalho remoto e o aumento da produtividade, indicando que cada dia adicional trabalhado de casa pode elevar a produtividade em até 15.000 libras por ano.

Isso não significa necessariamente que o home office seja a causa direta da maior produtividade, mas sim que pode contribuir para um ambiente de trabalho mais eficiente.

Apesar de muitos funcionários relatarem melhor desempenho fora do escritório, as empresas parecem dispostas a manter o modelo de trabalho remoto ou híbrido, com 30% dos trabalhadores em tempo integral no Reino Unido adotando essa modalidade.

Por que algumas empresas insistem no retorno ao escritório?

A decisão de algumas empresas, lideradas por CEOs como Carole Tome da UPS, de exigir o retorno ao trabalho presencial levanta questões.

Nick Bloom, um dos economistas por trás do Decision Maker Panel, menciona um estudo da Universidade de Pittsburgh que analisou o impacto das políticas de retorno ao escritório. O estudo concluiu que essas políticas pouco afetam a lucratividade ou o valor de mercado da empresa, mas causam uma “queda significativa” na satisfação dos trabalhadores.

Além disso, os pesquisadores sugerem que a exigência de retorno ao escritório pode ser uma forma de os gestores reafirmarem controle sobre os empregados, usando-os como bodes expiatórios para o mau desempenho da empresa.

Embora essa seja apenas uma das muitas perspectivas sobre o tema, destaca-se a complexidade da relação entre local de trabalho, satisfação do empregado e desempenho empresarial.