Commodities
Fecoagro vê quebra de parte da safra de milho do RS por seca
Na terça-feira, a soja renovou sua máxima a 166,57 reais/saca, segundo o Cepea.
O Rio Grande de Sul, maior Estado produtor de milho na primeira safra brasileira, tem prejuízos irreversíveis nas lavouras do cereal por causa da seca, o que pode resultar na alta de preços em um mercado que vive com oferta escassa, disseram especialistas e a federação das cooperativas agropecuárias do Estado (Fecoagro).
Alguns agricultores do Estado, que por questões climáticas plantam apenas uma safra de milho por ano, ao contrário de outras partes do país que colhem mais na segunda, já acionaram o seguro rural. Outros produtores gaúchos estão considerando plantar soja em terras nas quais o milho não vingou.
“É difícil estimar (as perdas), mas acredito que tem produtores no Rio Grande do Sul que já acionaram o seguro, aqueles que já têm danos irreversíveis. E tem produtores não financiados pensando em tirar o milho e plantar soja”, disse Paulo Pires, presidente da Fecoagro.
“O produtor vai aproveitar os preços da soja, o produtor é muito dinâmico, ele vira a página muito rápido”, acrescentou, referindo-se aos preços da oleaginosa, também em patamares recordes.
O governo estima que a safra milho do Rio Grande do Sul em 5,7 milhões de toneladas em 2020/21, ou pouco mais de 20% da produção total no verão, sem considerar as perdas pela seca.
A cotação do milho chegou a um recorde histórico no Brasil esta semana, com o preço atingindo 82,67 reais por saca de 60 kg na quarta-feira. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os valores tomaram o lugar da máxima anterior de 2007.
Na terça-feira, a soja renovou sua máxima a 166,57 reais/saca, de acordo com o indicador do Cepea.
A força nas cotações já havia levado o governo a cortar as tarifas para importações de soja e milho de fora do Mercosul, mas questões sobre variedades transgênicas não aprovadas trazem preocupações sobre eventuais negócios, segundo especialistas.
As importações ainda estão limitadas a países ao Mercosul, especialmente Paraguai, e o mercado deve ficar sustentado até meados de 2021, quando acontecerá a colheita da segunda safra brasileira, estimou o analista da Safras & Mercados Paulo Molinari.
“A primeira safra de milho não atende todo o mercado, ainda mais se a região Sul tiver quebra. Continua tendo problema no Rio Grande do Sul”, afirmou Molinari.
Nesta sexta-feira, separadamente, a Safras & Mercado revisou seus números de produção total do país, elevando a projeção para um recorde de 116,427 milhões de toneladas do cereal, que considera uma área maior na segunda safra, já que reduziu a estimativa da colheita de verão, devido à seca.
Não há sinalização para uma redução do preços das commodities agrícolas, concordou Pires, da Fecoagro.
“Estão em desespero por milho, nunca vi indústrias tão preocupadas com o suprimento da matéria-prima, e os produtores com milho plantado com pivô (irrigação) vão ter bons resultados”, acrescentou o presidente da federação.
Chuvas
O tempo deve voltar a ficar firme em toda a metade sul do país na próxima semana, após pancadas de chuvas isoladas no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina previstas para sábado. Com isso, a perspectiva é que os trabalhos de plantio de soja e milho sejam dificultados, afirmou nesta sexta-feira o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos.
“A primeira semana de novembro vai ser exatamente assim, chuvas apenas no Matopiba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) e norte de Goiás e Minas Gerais”, disse o agrometeorologista.
Ele afirmou também que no final da semana que vem as chuvas voltarão ainda de forma irregular sem várias regiões Brasil, o que poderia ajudar para reduzir perdas no milho primeira safra, principalmente no Rio Grande do Sul.
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