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Commodities

Brasil aumenta estoque de café na ICE e ameaça pequenos produtores

Avanço poe pressionar ainda mais o valor de referência do café arábica na ICE, que desceu a mínimas de quase 14 anos em 2019.

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O Brasil está elevando sua participação no mercado global de café arábica, conforme grãos oriundos do país entram em armazéns da bolsa ICE Futures, ingresso que pode afugentar pequenos produtores do mercado e pressionar os valores de referência do produto.

Com uma colheita mecanizada e métodos de processamento mais baratos mantendo seus custos de produção abaixo dos de seus rivais, o país já á capaz de fornecer grandes volumes a preços acessíveis para os mercados há bastante tempo.

À medida que sua produção de café cresce, o maior produtor global de café também eleva a produção de arábica de maior qualidade, e agora, pela primeira vez, está mandando seu excedente de grãos para os mercados futuros de Nova York em grandes volumes.

A quantidade de café brasileiro em armazéns da ICE e disponível para entrega em relação aos contratos futuros da commodity avançou para 88.294 sacas, contra 650 sacas em 3 de setembro, mostram dados, o que afastou os estoques totais das mínimas de 20 anos observadas recentemente, quando chegaram a apenas 1,1 milhão de sacas.

O crescimento oferece ameaça para rivais, especialmente nas Américas Central e do Sul, uma vez que pode pressionar ainda mais o valor de referência do café arábica na ICE, que desceu a mínimas de quase 14 anos em 2019 e permanece abaixo dos custos de produção de diversos pequenos cafeicultores.

Os futuros na ICE normalmente recuam quando o volume dos estoques que os referenciam aumenta, mas a merda possibilidade de operadores dos mercados futuros receberem café do Brasil, menos procurado do que os grãos da América Central, também é capaz de derrubá-los.

E o fluxo do café brasileiro até agora é possivelmente apenas o começo do problema.

Operadores prevêem que até 400 mil sacas serão entregues nos próximos meses, a primeira grande chegada desde que a ICE modificou suas regras em 2013 para permitir que o café premium “semi-lavado” do Brasil pudesse ser entregue contra os futuros de arábica “lavado” de alta qualidade.

A expectativa para os próximos anos é de que um volume ainda maior possa ser entregue.

O café lavado, que envolve a extração do fruto com água antes da secagem dos grãos, tem custo de produção mais elevado e demanda preços mais altos.

O Brasil produz principalmente os “naturais”, de qualidade inferior, em que as cerejas são secas antes da extração, mas uma safra de maior qualidade neste ano permitiu o aumento da produção de grãos “semi-lavados”, em um processo com menos etapas que o do café totalmente lavado, mas que ainda assim resulta em boa qualidade.

“Se as condições atuais do mercado voltarem a emergir, os ‘semis’ do Brasil voltarão a ser entregues”, disse Vivek Verma, CEO da Olam Coffee, integrante de uma das maiores tradings globais de commodities agrícolas.

“Alguns produtores de lavados teriam que abandonar totalmente o café, o que seria uma tragédia”, acrescentou.

Virada de jogo

Honduras ainda é a principal fonte dos estoques de café da ICE, com 856.425 sacas, mas esse volume caiu quase pela metade frente o ano passado, quando totalizava 1,52 milhão de sacas.

“Os preços baixos que tivemos no café significaram que os produtores (fora do Brasil) não quiseram mais colher seu café, não se preocuparam em colhê-lo, então não pudemos repor os estoques certificados”, explicou um operador de uma trading internacional de commodities.

O Brasil produziu de 6 milhões a 10 milhões de sacas de café semi-lavado neste ano, quase o dobro do número de costuma produzir, calculam operadores.

A perspectiva de aumento de produção refletiu na queda dos preços dos “semis” do Brasil nos mercados físicos, tornando a entrega de grãos para a bolsa uma opção atraente.

Muitos acreditam que uma mudança de longo prazo está em curso, embora esse pode não ser o cenário em todos os anos.

“Os ‘semis’ do Brasil são potencialmente o futuro, eles podem ser tornar a força dominante desse mercado”, disse ele.

Outro trazer afirmou “seria uma grande virada de jogo. As pessoas podem investir mais na capacidade de lavagem do Brasil e outras origens de arábica se tornariam um produto de nicho, premium, gourmet… vai demorar cerca de três anos para isso acontecer.”

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