Commodities
Preços atuais favorecem agricultor mas desafiam setor de carnes do Brasil, diz Itaú BBA
Aumento do produto na indústria de frango não foi o bastante para fazer frente aos custos com a ração.
Os preços de soja e milho deverão continuar em níveis altos em 2021, com um aperto na oferta elevando as margens de agricultores, mas prejudicando produtores de carnes do Brasil, especialmente do setor de frango e dos que realizam confinamento bovino, disse nesta terça-feira a equipe de analistas do Itaú BBA.
“No mercado de grãos, não tem nada tão bom que não possa melhorar, e vai para outra safra muito positiva do ponto de vista de preços, mas também do ponto de vista da relação de trocas”, afirmou Guilherme Pessini, superintendente de Agronegócios do Itaú BBA, destacando que a cotação da soja em reais dobrou no último ano, ao passo que a do petróleo, que influencia nos custos, está mais baixo.
O cenário de alta nos grãos, usados como matéria-prima para a ração, deverá se manter em 2021, o que gera a uma preocupação para a indústria de proteínas animais, avaliou Pessini.
Na perspectiva das commodities agrícolas, a China segue realizando fortes compras de soja, reduzindo o excedente exportável dos Estados Unidos, ao passo que o Brasil, maior produtor e exportador global do grão, enfrenta uma irregularidade no clima que já atrasou a semeadura.
O desafio refletirá em um início de colheita mais tardio, estendendo um aperto da oferta até o final de janeiro, quando o volume de grãos colhidos deve crescer. Também há temores sobre o efeito do La Niña para as lavouras do Sul do Brasil e Argentina.
Para o gerente de Consultoria de Agronegócios do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, isso “joga responsabilidade para a safra” brasileira.
A América do Sul tem lidado com problemas climáticos em meio a um La Niña lembrou ele, destacando que apesar da aceleração do plantio de soja no Brasil nas últimas semanas, isso elevou a concentração da safra em uma mesma fase, o que aumenta riscos em caso de qualquer adversidade climática.
Recentemente, a bolsa de Chicago alcançou os maiores valores em mais de quatro anos, cerca de 12 dólares por bushel, impulsionado por preocupações com a oferta da safra sul-americana.
A historia da soja quase se repete no mercado de milho. Não há muito “espaço para que os preços caiam até a entrada da segunda safra do Brasil”, quase na metade de 2021, quando chega a maior colheita brasileira do cereal, disse Bellotti.
No segunda metade do ano que vem, há chance de queda nas cotações do milho, mas isso ainda dependerá do volume da segunda safra, que será semeada mais tarde com o atraso da soja, o que eleva risco de eventual escassez de chuva.
Indústria de carnes
Para indústria de frango, o aumento do produto não foi o bastante para fazer frente aos custos com a ração, o que levou o resultado das granjas ao vermelho em meio a preços históricos da soja e do milho.
Segundo o consultor de Agronegócios do Itaú BBA, César de Castro Alves, a avicultura sofreu o impacto do tombo do petróleo, que prejudicou a demanda por carnes do Oriente Médio, importante comprador de aves do Brasil.
“Então a exportação não foi capaz de segurar o setor, e no mercado doméstico os preços ficaram defasados em relação ao dianteiro bovino e a carne suína”, disse ele.
“Ou o setor aumenta os volumes de exportação no próximo ano, ou o ideal seria reduzir um pouco a produção para fazer frente aos custos elevados”, acrescentou, recordando que o fim do auxílio emergencial também irá impactar a demanda doméstica.
Para os segmentos de carne bovina, o cenário é um pouco melhor, mas há riscos atrelados aos altos custos dos bezerros enquanto pecuaristas retêm fêmeas diante de preços recordes da arroba bovina.
“A gente enxerga uma possível continuidade desse quadro no próximo ano, isso faz com que produtores segurem as fêmeas, e no final do dia isso significa menos ofertas para frigoríficos”, afirmou o consultor.
O desafio do pecuarista em 2021 e 2022 vai ser fazer com que “bezerro caro” não encontre um boi gordo desvalorizado, o que pode pressionar margens do produtor, disse Alves.
Ele também afirmou que, para a indústria, a situação atual é diferente da registrada no ano passado, quando havia mais margem para repasses de preço da carne no mercado interno.
“Passamos para 2021 com muitas incertezas na economia, dificuldade de repasses adicional, e a não continuidade do auxílio emergencial é um desafio, com um boi gordo valorizado e a necessidade de repassar preços, mas talvez sem o anabolizante que foi o auxílio emergencial”, explicou.
Já para o setor de carne suína, as exportações recordes em 2021, que devem totalizar 1 milhão de toneladas, deixam o setor no azul.
A forte demanda da China, que tenta recompor a oferta prejudicada pela peste suína africana, “construiu uma ambiente de elevação de preços que gerou margens espetaculares”, disse Alves.
O setor de suínos deve elevar a produção em 5%, enquanto os embarques estão crescendo 40% no ano, completou o analista.
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