Economia
Indicadores pioram, mas Campos Neto vê ‘virada de página’
Presidente do BC disse acreditar em ‘melhoria da percepção fiscal pelo mercado’
Destoando da abordagem ‘tensa’ que vem acompanhando os indicadores econômicos (sobretudo, os que apontam tendência alta firme da inflação) mais recentes, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto visualiza uma perspectiva positiva para a política fiscal, levando o ‘cenário básico’ montado pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Variáveis inalteradas – A despeito de a pandemia ter provocado crescimento da despesa, combinado com perda de arrecadação, o comandante do BC acredita que “a trajetória das principais variáveis fiscais não se alterou”. Ele argumenta que, antes da crise sanitária, a estimativa era de que a dívida bruta chegasse ao final deste ano próxima a 80% do Produto Interno Bruto (PIB), previsão que passou a 100%, no auge da incerteza com o vírus, mas que hoje convergiria para 81% do PIB.
Fé na estabilidade – Embora reconheça que o recuo da dívida decorre, por efeito estatístico, de ganhos nominais do PIB, que ‘vitaminariam’ as receitas, o dirigente enfatiza o esforço federal em “impedir que um volume muito grande de despesas ficasse fora do teto”. Com base nessa convicção, a expectativa de Campos Neto é de que uma pequena alta da dívida bruta nos próximos anos, mas seguida de estabilidade e queda, posteriormente. Esse quadro favorável faria parte da visão mais positiva do cenário no curto e médio prazos, por parte do Copom, em contraposição ao ‘ceticismo’ da visão calcada no balanço de riscos.
Aperto dosado – De qualquer modo, o presidente do BC entende ser “importante determinar a dosagem do aperto monetário pelo colegiado” (Copom), que se reúne amanhã e quarta-feira (21 e 22), para deliberar sobre o viés de alta da Selic, a taxa básica de juros, que baliza todos os demais preços da economia.
Avaliação de risco – Levando em conta a evolução mais recente dos preços, que referencia a calibragem posterior dos juros, o comitê monta um cenário básico para a inflação, condicionada a um desempenho fiscal mais provável, quando então é avaliado o risco de as contas públicas se comportarem aquém da expectativa.
Âncora ameaçada – Em contrapartida, embora admitam melhoria fiscal, analistas do mercado avaliam que qualquer medida federal que implique desrespeito ao teto de gastos – como o financiamento, a todo custo, do programa social-eleitoral Bolsa Família – constitui “uma séria ameaça” à âncora fiscal do país. Por enquanto, fica a impressão de que as preocupações do mercado com a questão fiscal são maiores do que as do próprio Executivo.
Melhoria de percepção – Campos Neto, por sua vez, observa ‘melhora na percepção fiscal do mercado, após um período negativo, e que agora deve ser substituído por outro, ‘de virada de página’, quando “ficar mais claro como será pago o Bolsa-Família, por exemplo.
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