Economia
Companhias apostam em leilões privados de energia renovável no Brasil
Leilão da Copel movimentou 595 megawatts (MW), enquanto o da ESBR girou 170 MW.
Investidores disputaram com afinco contratos de longo prazo oferecidos em dois leilões para contratar usinas eólicas e solares no Brasil realizados em agosto, movimento que tem sido normal há mais de uma década nas licitações do país.
Contudo, uma diferença fundamental entre esses certames frente ao histórico recente foi observada: eles foram agendados por empresas, e não pelo governo federal, que desde 2005 tem comandado os pregões para expandir a oferta de energia.
O Ministério de Minas e Energia decidiu suspender por tempo indeterminado os leilões para novas usinas deste ano, resultado dos impactos da pandemia de coronavírus sobre a economia global e brasileira, que afetaram em muito o consumo de eletricidade.
Mesmo assim, companhias como Copel e Energia Sustentável do Brasil (ESBR), dona da hidrelétrica de Jirau, controlada pela francesa Engie, decidiram realizar concorrências.
Os leilões de energia solar e eólica da Copel girou 595 megawatts (MW), ao passo que o da ESBR movimentou 170 MW. Ainda que pareçam modestos na comparação com os certames para o mercado regulado do governo, que chegaram a movimentar mais de 7 gigawatts (GW) em 2014, os números fazem diferença diante de um cenário de menos oportunidades para investimentos.
Franklin Miguel, presidente da unidade de comercialização da Copel, afirmou que a empresa adquiriu energia a preços competitivos. “Não houve nenhum outro leilão de longo prazo, então os agentes estavam com projetos ‘estocados’, querendo vender”.
Já a Copel vem tentando comprar energia para atender à demanda de seus clientes no mercado livre de eletricidade, onde grandes consumidores como indústrias negociam o suprimento diretamente com geradores e comercializadoras, ainda seguindo Miguel. A companhia já havia realizar licitação semelhante em 2019.
“Temos agora até novembro, dezembro, para confirmar como fica a retomada da economia. Se tudo correr bem, vamos fazer mais um leilão ainda em 2020 e em 2021 vamos fazer também.”
No caso da usina de Jirau, a intenção da contratação de energia foi gerar um “colchão” de reserva contra o chamado “risco hidrológico”, para evitar eventuais perdas em caso de menor geração devido a questões como o nível dos reservatórios.
“Nesse momento, atingimos o objetivo que foi traçado, mas a ideia é que venhamos a fazer outros certames mais adiante”, afirmou Edson Silva, presidente da ESBR.
“Não posso revelar os vencedores, mas são basicamente empresas tradicionais, desenvolvedores de projetos que já atuam no mercado”, continuou.
A mineira Cemig foi a primeira a realiza, em 2018, um leilão de uma elétrica nesses moldes. Na ocasião, seguida três leilões menores, foram contratados 1,24 gigawatt em capacidade..
O superintendente de compra e venda de energia da empresa, Marcos Aurélio Alvarenga falou sobre o mercado. “Monitoramos a situação do mercado e a expectativa de demanda futura de nossos clientes para poder definir se vamos fazer nova rodada em 2020 ou não, mas ainda não há definição. Está sempre no nosso radar”.
Os contratos oferecidos pelas elétricas nos leilões variaram de 20 anos nas primeiras rodadas da Cemig a 13 anos no mais recente da Copel, com entrega dos projetos em 2022 e 2023.
“Temos acompanhado o desenvolvimento dos parques e o cronograma está em dia, inclusive a grande maioria dos projetos deve antecipar a entrada em operação”, completou Alvarenga.
Segundo fontes, a canadense Canadian Solar já anunciou que viabilizou projetos em licitação da Copel. A Essentia Energia, da gestora Pátria Investimentos, arrematou contratos junto à Cemig, mas as companhias ainda não confirmaram.
Empresas de projetos como a Omega Desenvolvimento, associada à Omega Geração, também têm olhado essas concorrências privadas para tirar do papel suas usinas planejadas, disse em entrevista recente à Reuters o presidente da elétrica, Rogerio Zampronha.
Nova modalidade é tendência
A nova modalidade de contratação é “tendência”, mas um mercado para grandes grupos, com capacidade financeira suficiente para que os compromissos de entrega de energia possam ser usados para alavancar empréstimos para investidores em geração, disso o consultor João Carlos Mello, da Thymos Energia.
“Isso já é realidade, não só para eventuais necessidades de reposição, como no caso de Jirau, pelo risco hidrológico, mas também para empresas absorverem energia renovável para concorrer no mercado de varejo, como Cemig e Copel”.
“Tem outras empresas olhando, mas evidentemente é algo para quem tem mais pulmão”, continuou. Mello não vê possibilidade de reagendamento ainda em 2020 de leilões de renováveis do governo.
As licitações privadas viabilizaram 765 MW em 2020, mais do que os 402 MW do último leilão A-4 do governo, no ano passado. Já o volume movimentado desde o primeiro pregão da Cemig em 2018 já chega a 3,3 GW, tão grande quanto os volumes anuais dos leilões do governo nos últimos dois anos.
Os certames ficaram ainda mais atraentes para elétricas, que podem comprar energia com esses incentivos antes que eles acabem, depois que o governo divulgou na quarta-feira uma MP que propõe o encerramento gradual de alguns subsídios para usinas renováveis.
“Estamos praticamente estocando ativos com esse desconto, os ‘últimos dois moicanos’, porque essa regra vai mudar. Fica mais valioso”, explicou o presidente da unidade de comercialização da Copel.
A MP 988 prevê descontos em tarifas de transmissão para usinas como eólicas e solares somente em projetos operacionais e outorgados nos próximos 12 meses, seguidos de sua suspensão para novos projetos.
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