Economia
Investimentos em geração distribuída de energia deve chegar a R$70 bilhões em 10 anos, prevê governo
Tecnologia permite que consumidores produzam a própria energia. Governo pretende manter uma política de incentivo a esses sistemas, fazendo pequenas alterações na atual regulação.
Nos próximos 10 anos, as iniciativas de geração distribuída, ou seja, tecnologia que permite a consumidores produzir a própria energia utilizando sistemas de placas solares em telhados ou grandes terrenos, por exemplo, devem receber investimento de até 70 bilhões de reais. A projeção foi feita pela estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Desta forma, a capacidade instalada desses sistemas poderia chegar a 24,5 gigawatts em 2030 em um cenário sem grandes mudanças nas regras atuais para a remuneração da energia gerada, conforme estudo divulgado pela EPE na noite da última terça-feira, 08.
A nova previsão é bem mais otimista que um cenário traçado pela EPE no ano passado, em seu Plano Decenal 2029. Na ocasião, a estatal sinalizava para 11,4 gigawatts em geração distribuída no final do período de dez anos e aportes de quase 50 bilhões de reais.
As instalações de GD, como essa forma de geração de energia é conhecida, somam atualmente cerca de 3,66 gigawatts em capacidade no Brasil, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Assim, esse tipo de tecnologia foi o segundo com maior expansão em termos de potência instalada no país no ano passado, com a produção de 1,4 gigawatt, atrás apenas das hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da oferta de energia local, segundo o material da EPE.
A projeção da estatal ligada ao Ministério de Minas e Energia de que a GD poderia movimentar 70 bilhões de reais tem como base um chamado “cenário verão”, no qual o governo manteria uma política de grande incentivo a esses sistemas, fazendo pequenas alterações na atual regulação.
Em um outro caso, o “cenário primavera”, com redução de incentivos tarifários à geração distribuída, os investimentos somariam 50 bilhões de reais até 2030, com uma capacidade que alcançaria 16,8 gigawatts.
No cenário mais otimista, o número de consumidores com sistemas próprios de geração seria de 3 milhões em 2030. Já nas previsões mais moderadas, esse número pode chegar a 2 milhões, segundo a EPE.
Segundo a estatal, os painéis fotovoltaicos devem responder por 79% da energia entregue pela geração distribuída em 2030, com sistemas hidrelétricos na segunda colocação, com 11%.
A geração dessas instalações seria suficiente para atender entre 4,6% e 3,2% da carga total de energia ao final da próxima década, de acordo com o estudo.
Conforme o atual regulamento para geração distribuída, os consumidores que instalam pequenas usinas solares ou placas fotovoltaicas em telhados, por exemplo, podem ter toda a produção dos sistemas próprios descontada de sua conta de luz.
Em meio ao crescimento acelerado dos investimentos no setor, a Aneel chegou a iniciar no ano passado discussões sobre mudanças nesses incentivos, uma vez que subsídios dados à GD poderiam pesar no longo prazo sobre consumidores que não utilizam os sistemas.
Entretanto, a agência recuou após o presidente Jair Bolsonaro e parlamentares terem atacado a ideia, com promessas de derrubar no Congresso eventual decisão do regulador. Desde então, há expectativa de que o assunto volte a ser discutido em um projeto de lei.
Ainda de acordo com o estudo da EPE, mudanças regulatórias poderiam reduzir para em média 10% a taxa interna de retorno real (TIR) de investimentos em projetos solares residenciais, contra cerca de 20% atualmente. A TIR então se recuperaria gradualmente até alcançar 14% em 2030.
Para projetos solares comerciais, essas alterações poderiam reduzir a TIR para 15%, de cerca de 16% atuais, mas neste caso, os retornos se recuperariam para até 21% posteriormente.
“Alterações regulatórias irão diminuir a atratividade dos investimentos em micro e mini geração distribuída. No entanto, a taxa interna de retorno continua competitiva nos dois cenários”, apontou a EPE no estudo.
Em um cenário sem qualquer mudança nas regras vigentes para a tecnologia, chamado de “limite superior” pela EPE, a capacidade em sistemas de geração distribuída no Brasil poderia fechar 2030 em 35,8 gigawatts, de acordo com a estatal.
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