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Desindustrialização levou o Brasil a se tornar um ‘país primário’
Como indústria nacional ‘virou pó’, é crescente a dependência brasileira de exportação de commodities
Cada vez mais, o Brasil está se tornando um país primário e menos tecnológico. A constatação cruel está calcada em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que atestam o ‘encolhimento’ avassalador da participação das exportações nacionais no mercado mundial, de 12% para ínfimos 2%, no período de 20 anos.
A conclusão fria dos números do instituto não deixa dúvidas: ‘A indústria nacional virou pó’, expressão geralmente empregada para indicar que a ação de uma determinada empresa não vale mais nada no mercado.
Com o setor industrial ‘sucateado’, restou à pátria tupiniquim se especializar em itens primários, ante um mundo crescentemente tecnológico, cristalizando sua dependência dos setores agropecuário e de mineração, que se baseiam no baixo uso de tecnologia de ponta.
Em consequência de um modelo exportador mais restrito, que se acentuou desde meados da década de 2000, o país mergulhou num ‘funil econômico’ classificado por economistas como ‘reprimarização’, o que significaria uma ‘volta ao passado’, no que se refere ao seu desenvolvimento econômico, que hoje pauta toda a estrutura produtiva nacional.
Na verdade, o processo de ‘desindustrialização’ se aprofundou desde os anos 1980, se caracterizando pelo abandono do planejamento econômico de longo prazo, redução de investimentos públicos e perda de protagonismo da indústria como centro da política de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico da China acelerou a demanda do país asiático por produtos primários, como o minério de ferro, petróleo, carne e soja, que passaram a ser fornecidos, de forma constante, pelo Brasil.
Como exemplo da decadência concorrencial brasileira, basta saber que em 1995 – logo após à criação do Plano Real, que deu fim à hiperinflação – a indústria de transformação participava com 16,8% do PIB nacional, dez pontos percentuais superior à soma daquelas que apresentavam, na época, os setores agropecuário e de mineração (6,5%). À medida que essa diferença entre os setores se reduz, se acentua a ‘desindustrialização’ do país e aumenta sua dependência das importações de produtos primários nacionais pela China.
Essa distância veio diminuindo ao longo dos anos, em meio à desindustrialização e à demanda crescente da China por bens primários. Em decorrência, em 2021, pela primeira vez, com o avanço das commodities, altamente demandadas pela pandemia e, mais recentemente, devido à guerra da Ucrânia, o agro e mineração finalmente superaram a indústria local. Pior, tal tendência continuou a se acentuar no ano passado, observa o pesquisador da Universidade de Joanesburgo (África do Sul) e economista Paulo Morceiro, que sentencia: “Isso é um retrocesso para o país”.
Em contraste, economias mais desenvolvidas do planeta pautam seu desenvolvimento numa participação crescente de produtos industriais de alta ou média-alta tecnologia no comércio internacional. É o caso dos Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Japão, e mais recentemente, Coreia do Sul e China.
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