Bancos
Número de ‘superendividados’ atinge nível recorde em 2022
Pesquisa da CNC aponta que 17,6% dos consultados admitiram estar ‘muito endividados’
O efeito perverso da combinação de aumento célere da inflação com a manutenção, em nível muito elevado, da taxa básica de juros (Selic) – hoje em 13,75% ao ano – construiu o cenário ‘perfeito’ (se não fosse trágico), de alta inadimplência e endividamento inédito no Brasil.
Tal quadro pode ser confirmado por meio da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) ao apontar que o número de superendividados no país bateu recorde em 2022, com 17,6% das pessoas consultadas admitindo estar ‘muito endividadas’. O percentual é o maior registrado, desde o início da série histórica, iniciada em 2010.
Entre os ‘vilões’ do endividamento, o estudo elegeu o cartão de crédito e o cartão de lojas varejistas como maiores destaques, no que toca à composição da dívida, com 82,6% admitindo que o meio de pagamento constitui sua ‘modalidade de crédito favorita’. Em 2013, o patamar de endividados chegou a 86,6%. No paralelo, o uso de cartão de loja chegou a 19% no ano passado, ante 18,1% em 2021.
Para a economista da CNC, Izis Ferreira, “o cartão de crédito é o grande destaque na composição de dívida das famílias. É uma modalidade de meio de pagamento muito fácil [de usar] e acaba se tornando uma modalidade de crédito de uso muito facilitado”
Reforça essa tendência o dado, também divulgado pela CNC, que dá conta de que o endividamento atingiu, no ano passado, 77,9% dos grupos familiares. No detalhe, a pesquisa da CNC apurou que 21,5% dos endividados já comprometem, em mais de 50%, sua renda mensal para o pagamento de dívidas.
Ao comentar a situação adversa, a economista da confederação explicou que os “superendividados”, em geral, se enquadram entre as famílias de renda mais baixa. Confirmando essa tese, a pesquisa descobriu que, em famílias de renda até dez salários mínimos, o contingente dos que declararam comprometer mais da metade da renda com dívidas corresponde a 23%, superando a média nacional, de 21,5%.
Outro dado relevante da Peic mostra que 28,9% das famílias admitiram estar numa situação de inadimplência, em que 10,7% declararam não estar sem condições de pagar suas dívidas. O índice de inadimplência citado é maior do que o de 2021, quando atingiu 25,2% das famílias.
Outro extrato do estudo destaca que, ao menos, sete em cada dez famílias (74,8%) afirmaram comprometer, no mínimo, 10% de seu orçamento mensal com dívidas. Em média, o pagamento de dívidas compromete 32% da renda familiar, repetindo o índice de 2021, embora represente o maior percentual, desde 2016.
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