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Economia

Resultado da balança comercial em março surpreende, diz FGV

Trata-se do maior saldo na série histórica do referido mês.

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O resultado da balança comercial em março surpreendeu o mercado, afirma a Fundação Getulio Vargas (FGV) em relatório encaminhado ao mercado na manhã desta terça-feira (18).

De acordo com o documento, trata-se do maior saldo na série histórica do mês de março. “Contribuiu o fim do lockdown na China, que permitiu um aumento de 29,6% no volume exportado para esse país”, disse.

E acrescentou que, ao mesmo tempo, as previsões de taxas de crescimento abaixo de 1% para a economia brasileira desaceleram o ritmo de crescimento das importações. É possível que o saldo em 2023 supere o de 2022.

Em março, a balança comercial registrou o maior saldo da série histórica desse mês, US$ 10,9 bilhões. Um aumento de US$ 3,3 bilhões em relação a março de 2022.A melhora do saldo da conta de petróleo e derivados passou de US$ 1,7 bilhões para US$ 3,5 bilhões e a dos demais produtos de US$ 5,9 bilhões para US$ 7,4 bilhões. Em valor, as exportações totais aumentaram em 12,3% e as importações, 1,4%.

Gráfico da FGV sobre Balança Comercial.

Resultado da balança comercial pela FGV

Ainda de acordo com a fundação, a melhora do desempenho exportador é liderada pelo aumento do volume exportado, que cresceu 17,5% na comparação mensal, enquanto os preços exportados recuaram em 4,7%. No caso das importações, o volume importado caiu 1,4% e os preços subiram 2,8%.

No trimestre, o saldo da balança comercial foi de US$ 15,8 bilhões, superior ao do primeiro trimestre de 2022, que foi de US$ 12,2 bilhões. Em valor, as exportações aumentaram 4,8% e as importações recuaram 0,3%. A variação no volume exportado (4,7%) explica o desempenho positivo, em valor, das exportações. O recuo das importações foi liderado pela queda do volume (4,0%), pois foi registrado um aumento de preços de 3,8%.

Na comparação com 2022, os preços recuaram e/ou registraram variações abaixo dos 2 dígitos, o que foi um dos fatores de pressão inflacionária naquele ano. Até o momento, o comportamento em valor dos fluxos de comércio está sendo liderado pelos volumes.

Gráfico da FGV sobre Balança Comercial.

Exportações

As exportações de commodities, em março, cresceram em valor 13,8% e a de não commodities, 9,1%. Na comparação do mês de março, o volume das commodities creceram 19,5% e das não commodities, 6,1%. A variação dos preços foi negativa para as commodities (-5,0%) e positiva para as não commodities (2,7%).

No trimestre, a variação do volume exportado das commmodities (3,1%) supera o das não commodities (1,6%), enquanto que para os preços o resultado é o inverso, o aumento de preços das não commodites supera o das commodities. Em valor, as exportações de commodities aumentaram 3,6% e das não commodities 7,2%.

As importações, em valor, das commodities aumentaram 11% e das não commodities, 0,3%. A variação do volume importado das commodities foi de 20,5%, mas os preços recuaram em 8,2%, o que explica o aumento em valor de 11%. As importações, em volume, das não commodities recuaram em 3,5% e os preços aumentaram 4,0%.

Desempenho

O desempenho exportador por setor, em termos de volume, mostra que, em março, a indústria extrativa liderou o percentual da variação, em relação a março de 2022 em 59%, seguida da agropecuária (11%) e da indústria de transformação (8,1%). O principal produto exportado da extrativa foi o petróleo em bruto, com variação em tonelada de 102,7%. Em termos de variação dos preços, houve recuo da extrativa (20%) e aumento de 2,9% para a agropecuária e 1,2% para a transformação. Ressalta-se que, em março, a participação da extrativa no valor exportado total (25,8%) ficou próxima a da agropecuária, 26,9%, e o da transformação foi de 47,3%. A variação positiva do volume em todos os setores, em especial o aumento acima de 50% da extrativa, contribuiu para o aumento do volume exportado em 17,5%, entre março de 2022 e 2023.

Na comparação interanual trimestral, a extrativa liderou a variação no volume exportado, 19,5%, seguida de aumento de 1,3% da agropecuária e de 0,4% da transformação. Os preços caíram para a extrativa (13,3%) e aumentaram para a agropecuária (7,6%) e para a transformação (4,1%). No trimestre, foi destaque a variação de 174% das exportações de milho.

Entre março de 2022 e 2023, o volume importado caiu para a agropecuária (18,4%) e para a extrativa (15,8%) e aumentou 0,5% para a transformação. A variação dos preços foi positiva, mas abaixo de 3% para todos os setores. Na comparação trimestral, o volume importado caiu para todos os setores e os preços aumentaram para a agropecuária (8,6%) e transformação (4,5%), enquanto recuaram na extrativa (0,8%).

O recuo nas importações está associado a uma expectativa menos favorável em relação ao crescimento econômico do país. O World Economic Outlook de abril, publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), prevê uma redução na taxa de crescimento do Brasil de 2,9% em 2022 para 0,9%, em 2023, enquanto no modelo de previsão do IBRE, a projeção é de 0,3%. Nesse cenário, é esperado que as importações desacelerem. O Gráfico 5 mostra que as importações de bens intermediários para a indústria recuaram, na comparação trimestral; e mesmo para agropecuária, com previsôes de crescimento ao redor de 8%, também registrou uma pequena queda (1,7%). Vale notar a variação nos preços: queda de 23,1% para a agropecuária e aumento de 3,5% para a indústria. Nesse mesmo período em 2022 em relação a 2021, os preços de bens intermediários da agropecuária cresceram 123% e da transformação 32%. No primeiro caso, foi o efeito da Guerra da Ucrânia sobre os adubos e fertilizantes, já no segundo, refletiram os gargalos ainda existentes nas cadeias produtivas relacionadas à COVID 19.

As expectativas favoráveis para a agropecuária explicam o aumento das compras de bens de capital (127,7%), que estão associados em parte a máquinas necessárias para a colheita. Para a indústria, o aumento dos bens de capital foi de 6,7%.

A surpresa

A surpresa da balança comercial veio pelo lado das exportações. As previsões são de desaceleração do produto mundial. Segundo o FMI, a taxa de crescimento do produto mundial vai passar de 3,4% em 2022 para 2,8% em 2023. Nos Estados Unidos, a variação do PIB cairá de 2,1% para 1,6% e na Zona do Euro de 3,5% para 0,8%. Para o principal mercado de destino das exportações brasileiras, a China, a tendência é o inverso. Com o fim da política de lockdown, associada a COVID 19, o crescimento aumentará de 3,0% para 5,2%.

Na comparação interanual do mês de março, o volume exportado para a China foi de 29,6% e, na comparação do primeiro trimestre, de 9,6%, mostrando que o efeito do fim do lockdown está começando a impactar. Os principais produtos continuam sendo a soja, o minério de ferro e o petróleo. Para os Estados Unidos, na comparação mensal, o aumento foi de 9,7% e, no trimestre, de 8,8%. Para o nosso terceiro principal mercado de exportação, a Argentina, os aumentos foram de 20,9% (mensal) e 11,4% (trimestral). A variação mensal para a União Europeia foi de 19,8% e de 7,1%, no trimestre.

Para a Argentina, observa-se que o crescimento está associado ao desempenho do setor automotivo. Entre os primeiros trimestres de 2022 e 2023, as exportações de partes e peças para veículos aumentaram, em valor, 38,6%, e a de veículos de passageiros em 52,9%. Os dois itens explicam 22% das exportações brasileiras para a Argentina.

Volume

O aumento de volume está ajudando a variação positiva do valor exportado nesse primeiro semestre. Por outro lado, a queda de preços mais acentuada nas importações tem levado à queda nos termos de troca. Como pode ser observado no Gráfico 7, após uma ligeira recuperação, a partir de janeiro de 2022, os termos de troca, em bases trimestrais, mostram tendência de queda, desde dezembro de 2022.

Os dados sugerem que a dependência da China para a melhoria das exportações deverá se acentuar esse ano. A União Europeia tem elevado sua participação na pauta brasileira devido às restrições da Guerra da Ucrânia; mas a desaceleração esperada na região sugere que a contribuição desse mercado não deve aumentar. Por fim temos a Argentina, com crescimento de compras brasileiras, em especial do setor automotivo. Como esse é um comércio administrado, as decisões das multinacionais podem estar influenciando nos resultados, apesar da crise econômica do país.

Redatora. Formada em Técnico Contábil e Graduada em Gestão Financeira. Contato: simonillalves@gmail.com.

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