Commodities
UBS diz que retorno de fluxos de portfólio é o que falta para tendência de apreciação do real
Banco também apontou outros elementos já em curso favoráveis à moeda brasileira.
Em nota enviada a clientes divulgada nesta quinta-feira, o UBS avaliou que continuidade do retorno de fluxos de portfólio ao Brasil é a “peça que falta no quebra-cabeça” que pode colocar o real em uma tendência de apreciação. No documento, o banco apontou ainda mais elementos já em curso favoráveis à moeda.
O retorno desse dinheiro acontecerá no caso de o país apresentar nos próximos meses um “claro pano para consolidação fiscal de médio prazo”, que seria sinalizado pela aprovação do Orçamento 2021, disse a instituição suíça.
Ainda de acordo com a projeção do banco, o dólar terminará 2020 em 4,95 reais, caindo para 4,6 reais ao final de 2021. Essas estimativas incluem a queda nominal da moeda de 6,8% até o fim deste ano e de 13,4% até o encerramento de 2021.
Outra projeção é a de desvalorização de 7,1% do dólar ao longo de 2021, após disparada de 23,4% em 2020 comparando-se o número do UBS com a cotação de 30 de dezembro de 2019 da Refinitiv (4,0129 reais).
Nesa quinta-feira, o dólar era cotado por volta de 5,31 reais, saltando 32,3% em 2020, o que faz do real a moeda relevante de pior desempenho em 2020.
Os “crescentes” riscos fiscais e saídas de recursos em carteira têm tido significante peso na magnitude da depreciação cambial em 2020 (de 24,4%), continuou o UBS.
Entre fevereiro e maio, o Brasil perdeu 34,992 bilhões de dólares em investimentos em carteira (renda fixa mais ações), conforme dados do Banco Central. Em junho e julho houve alguma recuperação, com superávit somado de 3,023 bilhões de dólares, mas ainda menos de 10% do montante perdido nos quatro meses anteriores.
Contudo, os analistas acreditam que há um “caminho para o real se estabilizar”.
Em nota, os analistas Tony Volpon, Roque Montero e Fabio Ramos falaram sobre o movimento. “Melhora na dinâmica das transações correntes, superávit no balanço de pagamentos perto de máximas históricas, impulso para reformas fiscais e recuperação do crescimento poderiam amenizar a saída de recursos de portfólio […] e diminuir parte do desvio negativo recorde do real em relação a seu valor justo”.
Ainda segundo ele, pelo modelo BEER de taxa de câmbio de equilíbrio, o real está 14% abaixo do valor justo, com z-score (desvio) negativo de 2,8. O modelo considera spreads de juros nominais, inflação, termos de troca e investimentos, por exemplo.
Para o UBS, o “provável” fim do ciclo de flexibilização monetária do Banco Central retira um vento contrário ao real. Porém, a moeda continuará tendo eventuais ganhos limitados por baixas taxas implícitas de juros, de 1% contra o dólar.
Eles acreditam que o prêmio de risco embutido no câmbio indica que o mercado vê descumprimento da regra em 2021, mas que o noticiário sobre o Orçamento poderia pesar no câmbio já no curto prazo. “O próximo evento-chave para os mercados será a situação do teto de gastos no próximo ano”.
Nesse sentido, o UBS vê as eleições municipais de novembro como o “primeiro teste” do governo antes da eleição presidencial de 2022. “Um resultado negativo para o governo poderia lançar mais dúvidas sobre a agenda de reformas e elevar a volatilidade do mercado”, afirmaram Volpon, Montero e Ramos.
Contudo, a expectativa é de que o Banco Central continue ativo no mercado de câmbio. Segundo os profissionais, o BC já atuou cerca de 20 vezes neste ano, sendo as duas das últimas cinco intervenções em volumes superiores a 1 bilhão de dólares em momentos nos quais o dólar oscilava em torno de 5,6 reais e a volatilidade estava perto de 22%.
“(Esperamos) que o BC acelere a atuação se o real depreciar de forma desordenada”, acrescentaram.
Uma aparente perda de aderência entre o comportamento do real e do dólar nos mercados externos também foi observada no levantamento do UBS.
“Podemos estar vendo uma mudança estrutural nessa relação estatística historicamente forte, mas por ora estamos assumindo que ela se manifestará conforme o risco político-fiscal diminuir”, disseram eles, destacando que, pelos padrões anteriores a moeda dos EUA deveria estar mais próxima de 4,00 reais.
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