Economia
Fundos de investimento têm a pior captação líquida da série histórica
Saldo negativo de R$ 163 bilhões em 2022 interrompe 13 anos de crescimento
A pior captação líquida de toda a série histórica, iniciada há 20 anos. Assim pode ser classificado o desempenho da indústria de fundos de investimento em 2022, segundo avaliação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), ao observar que o saldo entre saques e aportes do segmento ficou negativo em R$ 163 bilhões no ano passado, invertendo o sinal, ante à captação positiva de R$ 412,5 bilhões, verificada em 2021.
Segundo a associação, o resultado de 2022 equivale a um ‘baque’, uma vez que interrompe um ciclo de crescimento de 13 anos seguidos. O último ano de captação negativa dos fundos foi em 2008.
No cerne da crise do segmento, analistas apontam o grande desafio de competir com a rentabilidade dos fundos de renda fixa, que conquistaram a preferência do investidor, em razão da alta avassaladora da taxa básica de juros (Selic), catapultada de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para o patamar atual de 13,75% ao ano, o maior em sete anos.
Reflexo disso foram as perdas apuradas pelos fundos multimercados e de ações, que tiveram captações negativas de R$ 87,6 bilhões e de R$ 70,5 bilhões, respectivamente, no ano passado. A ‘dureza’ desse ano não poupou, nem mesmo, os fundos de renda fixa, que igualmente amargaram saldo negativo de R$ 48,9 bilhões.
Para o vice-presidente da Anbima, Pedro Rudge, um dos fatores que pode explicar o ‘ano desafiador’ de 2022 é a disputa acirrada entre fundos e produtos de renda fixa, que oferecem isenção de Imposto de Renda (IR), como Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), afinal vencida pelos produtos privados. Ele comenta, ainda, que “dada à magnitude da taxa de juros, esses títulos ganham uma atratividade muito grande. Os investidores escolhem uma rentabilidade melhor, pagando menos imposto”.
A inflação foram outro entrave ao desenvolvimento dos fundos no ano passado, apontam especialistas, uma vez ela reduz o volume de capital disponível a investimentos no mercado. “A renda dos brasileiros diminuiu. Para manter o padrão de vida, foi preciso gastar mais dinheiro e sobra menos para poupar e investir. Muito é usado para o pagamento de dívidas”, assinalou o dirigente da entidade.
Para 2023, Rudge admite que a tendência é a continuidade de saída de recursos dos fundos, pelo menos enquanto a Selic se mantiver elevada, quadro que se agrava, ante à constatação de que não é mais a inflação, mas incerteza fiscal que passou a ser a questão prioritária nas discussões sobre a política monetária, por parte do novo governo.
“Para reverter o movimento de saída de capital dos fundos, é preciso antes haver certo arrefecimento dos ânimos [do mercado] e uma previsibilidade melhor do que vai ser a solução fiscal que o novo governo vai propor”, concluiu o vice-presidente da Anbima, ao arrematar que a expectativa do mercado é de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad apresente, ainda nesse primeiro semestre, uma nova regra fiscal ao país.
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