EUA já apostam em chuva artificial para combater seca; Será que funciona no Brasil?

Direto do escritório do Aeroporto Regional de San Angelo, nos Estados Unidos, o meteorologista Jonathan Jennings fica à espera do momento certo para entrar em campo, ou melhor, no ar.  Ele, basicamente, atua na ativação de nuvens para promover chuvas artificiais e combater a seca no país.

Assim que identificada a iminência de uma tempestade ou a aproximação de nuvens carregadas, conforme os dados meteorológicos, constantemente monitorados, Jennings envia um avião para injetar produtos químicos nas nuvens e elevar a quantidade de precipitação no solo.

A semeadura de nuvens, nome dado ao procedimento, nada mais é que uma tecnologia antiga, implantada de várias formas desde a década de 1950 e que está sendo restabelecida, diante do quadro de oscilação das chuvas, no hemisfério norte. “É como se estivéssemos pegando uma esponja pingando e a apertando”, diz Jennings.

Aumento de até 15%

O meteorologista coordena o projeto da West Texas Weather Modification Association. Ele é um dos grandes defensores da estratégia, que utiliza produtos não tóxicos.  

De acordo com os dados de Jennings, a semeadura consegue aumentar a quantidade de chuva em determinada área em até 15%. Isso é o suficiente para gerar duas polegadas extras de chuva por ano, uma quantidade decisiva na sobrevivência de lavouras em períodos de seca.

O método auxilia, ainda, na recarga dos aquíferos subterrâneos, vitais para a permanência da atividade rural.

Demanda

A seca crescente e o acirramento dos efeitos do aquecimento global na região oeste dos Estados Unidos e México elevaram significativamente a demanda por semeadura.  

Ela se tornou a estratégia mais barata, diante de outras soluções tecnológicas caras, como a dessalinização da água dos oceanos. Hoje, o método já é aplicado, além do Texas, nos estados de Utah, Colorado, Nevada, Idaho, Novo México e Califórnia.

Enquanto isso, no México, as autoridades federais já estão espalhando nuvens semeadas em cinco estados diferentes que sofrem com a seca prolongada.

Como funciona

A semeadura é um processo que pode dar certo no ar ou no solo, com uso de geradores parecidos com chaminés e que enviam produtos químicos para as massas de ar.  

A maioria das tentativas usa partículas de iodeto de prata, com uma estrutura que parece gelo. Assim que o produto é injetado, a temperatura do ar deve chegar a -6 °C para que o vapor d’água comece a congelar ao redor do iodeto, ficando grande o suficiente até cair no chão.

Alguns especialistas em clima tendem a questionar a eficácia dessa estratégia. Para muitos, ela apenas puxa a chuva que deveria cair em um lugar para outra localização. Eles apontam ainda que a conservação do solo seria uma maneira mais segura de preservar o suprimento de água.

Todo o processo de semeadura de nuvens foi revisado em 2018 pela Organização Meteorológica Mundial. A conclusão foi de que se trata de uma tecnologia promissora.

Será que funciona no Brasil?

Além de Estados Unidos e México, a China também começou a testar o método em setembro do ano passado. Diante desse quadro e da seca que acomete o Brasil a cada ano, fica a pergunta se não seria o ideal para o país, também.

Com certeza, é algo para ser observado. O Brasil é um país tropical, próximo à Linha do Equador e tende a enfrentar períodos de seca e forte calor.  

A técnica da semeadura já é conhecida no país, mas falta ser utilizada em uma escala maior. Só o tempo poderá induzir a isso. Resta-nos aguardar.