Economia
Infectologista questiona dados do setor aéreo sobre coronavírus
Baixa probabilidade de se contrair Covid-19 em aviões, foi baseada em “matemática ruim”, diz especialista.
O infectologista norte-americano David Freedman, cujo estudo foi usado para tranquilizar o mundo em uma campanha de grandes companhias de aviação para convencer os clientes de que viagens aéreas são seguras, colou em xeque as informações apresentadas.
Freedman disse que se recusou a participar de uma recente apresentação feita pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) com as fabricantes de aviões Airbus, Boeing e Embraer, na qual sua pesquisa foi citada.
Apesar de ter elogiado algumas descobertas da indústria, classificando-as como “encorajadoras”, o pesquisador afirmou que um dos principais dados da apresentação, sobre a baixa probabilidade de se contrair Covid-19 em aviões, foi baseada em “matemática ruim”.
O número de casos de infecções contraídas em voos indicado em estudos científicos ou por companhias membro da Iata foi comparado com o número total de viagens de passageiros em 2020, em apresentação realizada em 8 de outubro à imprensa.
“Com apenas 44 casos potenciais identificados relacionados à transmissão dentro de voos entre 1,2 bilhão de viajantes, isso significa 1 caso para cada 27 milhões”, disse na ocasião David Powell, assessor médico da Iata.
Segundo a associação, os dados “estão alinhados com os baixos números reportados em recentes estudos de Freedman e Wilder-Smith que foram revisados por seus pares”.
Mas Freedman, pesquisador da Universidade do Alabama e coautor de um estudo publicado no Journal of Travel Medicine, criticou o cálculo de risco da Iata porque o número de casos confirmados não está ligado diretamente ao número real desconhecido de infectados.
“Eles me queriam naquela coletiva de imprensa para apresentar as coisas, mas eu me coloquei contra o título que eles colocaram nela”, disse ele.
“É matemática ruim. 1,2 bilhão de passageiros em 2020 não é um denominador justo porque quase ninguém foi testado. Como você sabe realmente quantas pessoas foram contaminadas?”, indagou.
“A ausência de evidência não é evidência de ausência”, afirmou.
Não foi possível entrar em contado com a Annelies Wilder-Smith, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, parceira de Freedman na pesquisa citada pela Iata.
Já a Iata reiterou, por meio de um porta-voz, que seus resultados são “relevantes e têm credibilidade” e que isso indica baixo risco de se contrair o vírus em viagens de avião.
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