Commodities
Ganhos comerciais do Brasil com o novo Brics é falácia; falta a Coreia do Norte para o clube das ditaduras
Nada fará aumentar o comércio dentro do Brics que não for o necessário para as economias participantes
Como no velho Brics, no novo Brics não muda nada em termos de ganhos para o comércio brasileiro. Quanto ao benefício das trocas em moedas locais, ou investimentos do Novo Banco de Desenvolvimento, ainda é só mais fumaça por ora.
O Brasil não exporta e não exportará nada para China com benefícios extras. Também não para Arábia Saudita, Emirados Árabes e Rússia.
Da mesma forma, não importará petróleo desses três últimos lugares com qualquer vantagem. Menos ainda do Irã, que está sob sanção Ocidental, o que significa que nenhuma empresa brasileira vai negociar por fora com os persas só porque estão no Brics e serem alijadas pelos países ocidentais.
Como muito tem sido falado, inclusive aqui há alguns dias, o novo ordenamento do arranjo entre Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul, que contará com aqueles dois países árabes, mais o regime dos aitolás, o Egito e a Argentina, pouco acrescentará ao comércio internacional brasileiro.
Para além apenas de servir como um novo polo geopolítico, favorecendo os interesses chineses – e russos, em menor escala -, em disputa com a hegemonia dos Estados Unidos e aliados da Europa, a nova união aumenta seus traços ditatoriais.
Com exceção dos atuais membros, Brasil, Índia e África do Sul, e da Argentina, os demais são regimes democráticos de pura fachada, como Rússia, Egito e Irã, ou ditaduras prontas e acabadas como China e os reinos Saudita e do Emirados.
Falta agora chamar para dentro a Coreia do Norte, Nicarágua e Venezuela, pelo que me lembro de cabeça.
Bom, voltemos ao comércio brasileiro, só para resumir a história contada no começo deste texto, reunindo só aqueles atores principais em termos de comércio.
Os chineses compram no Brasil o absolutamente necessário. Das commodities, como soja, açúcar, milho e minério de ferro, os preços são cotados internacionalmente.
Em carnes, pressionam o quanto podem por valores menores e o que chamam de prêmio para o boi China está em linha com que é exigido de qualquer outro fornecedor mundial.
Verdade que no caso da vaca louca deste ano, liberaram os exportadores brasileiros em 30 dias, contra mais de três meses no episódio de 2021, mas não fizeram nada mais que a obrigação. Afinal, o organismo mundial de saúde animal referendou que os casos brasileiros foram atípicos e não ameaçavam o consumo humano.
Quanto aos mercados russos e árabes, igualmente não há nenhuma abertura acima do que é balizado nas relações comerciais normais. Nenhum oferece nada acima do que é cotado, bem como não vendem petróleo abaixo dos preços de Londres – exceção à Rússia, atualmente, para driblar alguns embargos do Ocidente após sua criminosa invasão da Ucrânia.
Por sinal, os russos são useiros e vezeiros em impor barreiras comerciais, como sobre as carnes, em várias ocasiões. Lembre-se de que desde a primeira vez que proibiram a carne suína brasileiro, pelo uso de hormônio nunca comprovado, o Brasil nunca mais alcançou o patamar de vendas a esse destino.
Nenhum deles mudará depois dessa reunião de cúpula de Joanesburgo.
Mesmo o novo xodó da economia mundial, a Índia, com um disputa surda na Ásia com a China, não dará nada que não receba, sempre dentro das regras que o país namora com o Ocidente.
A fotografia econômica do Brics é tentadora – PIB de US$ 23,9 bilhões, 40,7% da população mundial, mas façamos um corte.
Quanto ao tamanho das economias somadas, só a China participa com US$ 18 trilhões; quanto à demografia, China e Índia detêm mais de 30% daquela participação total.
A concentração estatística explica tudo.
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