Agronegócio
Após 50 anos, EUA perdem o ‘cetro’ de maior exportador mundial de milho para o Brasil
Enquanto o país detém 32% das exportações globais do cereal, ianques respondem por 23%
Depois de dominar, por mais de meio século, o mercado internacional de milho, os Estados Unidos perderam a majestade de maior exportador mundial do cereal para o Brasil, no papel de fornecedor do insumo básico que alimenta o gado do planeta, suprindo estoques dos países ou para fabricação de alimentos processados.
A ‘passagem do cetro’, a princípio irreversível, entre os gigantes do agronegócio global, ocorreu nesta quinta-feira (31), quando também se encerra o ano agrícola daquele país. De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na safra deste ano, enquanto os EUA respondem por 23% das exportações globais de milho, o Brasil já detém 32% das vendas externas mundiais. A partir de agora, a expectativa é de que, para a safra de 2024 – que tem início em 1º de setembro – da pátria tupiniquim deva consolidar sua posição de liderança.
Desde o governo Kennedy, essa é a segunda vez – a primeira, em 2013, após uma seca que devastou as lavouras do país – que a maior potência mundial perde a dianteira, tanto na produção, quanto na exportação. Mas essa não é a primeira ‘ultrapassagem’ verde-amarela sobre o Tio Sam. O mesmo já havia ocorrido, em 2013, com relação à soja, principal item da pauta exportadora nacional. Desde então, o Brasil é o líder absoluto de produção e exportação.
No caso do trigo, a liderança global foi arrebatada dos EUA, inicialmente pela União Europeia e, mais recentemente, pela Rússia.
Antes que um ‘golpe de sorte’, em tempos de globalização, os fatores determinantes da decadência estadunidense são diversos. Entre eles, os crescentes custos de produção do país, a indisponibilidade de terras; sequelas da guerra comercial aberta entre o ex-presidente Donald Trump e a China, sem contar o fortalecimento do dólar.
As commodities agrícolas, ao longo dos últimos anos, sobretudo durante a chamada ‘guerra fria’, representaram a maior ‘munição’ utilizada pela superpotência ianque em seu plano de dominação geopolítica do globo, por meio da distribuição abundante de suprimentos alimentares para manter na defensiva o colosso soviético.
Para a consultora independente e negociadora do mercado, Ann Berg, recorreu à metáfora para ilustrar o cenário mundial. “Os Estados Unidos me lembram o sapo sendo fervido lentamente”, para arrematar: “Perdeu sua dominação, mas levou 40 anos”.
No front interno, justiça seja feita, a liderança brasileira em relação ao milho começou a ser ‘plantada’ desde o momento em que, anos atrás, o governo federal incentivou o uso do cereal cultivado para fins de produção de etanol, insumo adicionado à gasolina.
Do ponto de vista estratégico, os EUA enfrentam entraves complexos, como custos trabalhistas e de transporte mais altos, a reboque de uma seca contínua no Rio Mississippi, o que comprime a maior artéria comercial para as safras do Meio-Oeste. Enquanto isso, o Brasil tem avançado na atualização dos portos e de sua infraestrutura e reduzido falhas logísticas, sem contar a vantagem competitiva de contar com duas colheitas do cereal no ano.
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