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Mercado de Trabalho

Estudo mostra relação entre origem do sobrenome e salário no Brasil

Estudo inédito revela como a origem do sobrenome pode influenciar a remuneração de trabalhadores brasileiros.

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A ideia de que o sobrenome pode influenciar a vida financeira de uma pessoa parece um tanto curiosa, mas é exatamente isso que um estudo recente sugere.

A pesquisa, conduzida pelo economista Leonardo Monasterio, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra uma relação entre a origem do sobrenome e o salário de milhões de trabalhadores brasileiros.

De acordo com os dados, trabalhadores com sobrenomes comuns de origem ibérica, como Silva e Souza, tendem a receber salários mais baixos em comparação com aqueles de ascendência japonesa ou germânica.

Esses achados revelam um padrão persistente na sociedade brasileira, onde os sobrenomes podem atuar como indicadores da ancestralidade e, por extensão, da posição econômica.

O estudo de Monasterio analisou informações de 46,8 milhões de trabalhadores do setor privado, entre 23 e 60 anos, e descobriu que cinco sobrenomes: Silva, Santos, Oliveira, Souza e Pereira; representam cerca de 45% da população analisada. Esses sobrenomes estão fortemente associados à herança portuguesa e espanhola.

Diferença salarial entre sobrenomes

Os resultados mostram que trabalhadores com sobrenomes de origem japonesa ganham, em média, 16,8% mais do que aqueles com sobrenomes ibéricos.

Da mesma forma, indivíduos com sobrenomes alemães recebem cerca de 8% a mais. Essa diferença salarial é atribuída a diversos fatores históricos, incluindo a qualidade da educação e a herança cultural.

Por exemplo, imigrantes japoneses e alemães que chegaram ao Brasil durante o século 20 trouxeram consigo um nível educacional mais elevado, que foi transmitido para as gerações seguintes.

A pesquisa também aponta que, ao focar nos 100 maiores salários registrados, 43 pertencem a pessoas com sobrenomes alemães, seguidos por 22 italianos e 17 ibéricos.

A origem dos 100 sobrenomes com os maiores salários de acordo com a pesquisa – Imagem: IPEA/BBC/Reprodução

Isso evidencia um domínio de descendentes europeus em posições de alto prestígio e remuneração no Brasil. Apesar disso, é importante observar que os japoneses, embora tenham uma média salarial mais alta, não dominam as primeiras posições nesse ranking.

Ancestralidade e mobilidade social

Além do aspecto financeiro, o estudo levanta questões sobre mobilidade social e oportunidades no Brasil. Através de uma técnica de machine learning, Monasterio foi capaz de identificar e classificar mais de 71 mil sobrenomes em diferentes grupos de origem, como italiana, alemã, ibérica, leste-europeia e japonesa.

Esses dados foram cruzados com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), revelando que 88,1% dos trabalhadores possuem um sobrenome de origem ibérica.

As regiões do Brasil também desempenham um papel significativo nessa desigualdade. A maioria dos sobrenomes não ibéricos está concentrada no centro-sul do país, áreas historicamente mais ricas e desenvolvidas.

Já os sobrenomes ibéricos se concentram mais no norte e nordeste, onde os níveis salariais e educacionais tendem a ser mais baixos.

Outras variáveis influenciadoras

Embora a pesquisa aponte para uma relação clara entre sobrenome e salário, Monasterio ressalta que essa correlação não é necessariamente causal.

Outros fatores, como cor da pele, gênero e nível de educação, também desempenham um papel importante na determinação dos salários.

Os dados mostram que trabalhadores pardos, negros e indígenas, independentemente da origem do sobrenome, recebem salários menores em comparação com indivíduos brancos.

Os trabalhadores com sobrenome de origem japonesa, além de ganharem mais, destacam-se por ter, em média, 13,6 anos de estudo e por apresentarem melhores resultados em provas de matemática.

Esses fatores indicam que a educação de qualidade e o capital cultural transmitido por gerações podem ser determinantes cruciais para o sucesso econômico, além da simples origem do sobrenome.

*Com informações de BBC.

Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestre em Comunicação Midiática (UFSM), também é copywriter e gestora de marketing. Tem uma paixão inabalável pelas palavras desde a infância.

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