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Lucro do varejo ‘evapora’ R$ 1,2 bilhão no 1T23 com aperto monetário
Lucratividade do comércio brasileiro ‘despencou’ de R$ 1,4 bilhão para R$ 207 milhões no primeiro trimestre
A combinação perversa entre juros elevados com escassez de crédito resultou numa perda global de R$ 1,2 bilhão no lucro das empresas de varejo listadas pela bolsa brasileira, a B3 (B3SA3), no primeiro trimestre deste ano (1T23) – que caiu de R$ 1,4 bilhão para R$ 207 milhões – o que corresponde a um ‘tombo’ de 85%, ante igual período do ano passado.
Essas informações constam do levantamento feito pelo diretor comercial da plataforma independente Trademap, Einar Rivero, após consulta aos dados das 31 maiores empresas listadas na B3.
Ao acentuar que os fatores determinantes para a ‘queda livre’ dos lucros foram, tanto a elevação da despesa, quanto a alta do dólar, Rivero explica que “tirando empresas muito endividadas, o fator macroeconômico foi o que mais impactou os resultados das empresas de comércio e varejo. No primeiro trimestre do ano passado, houve queda de 15% do dólar e isso levou a um ganho financeiro, o que não aconteceu neste ano. Isso levou ao aumento de despesa e queda de receita financeira”.
Somente de janeiro a março deste ano, informa o estudo do executivo da Trademap, as despesas cresceram 22,7% ante o mesmo período de 2022, o que determinou a redução de 9,6% do dinheiro em caixa dessas companhias, que caiu de R$ 27,8 bilhões para R$ 24,6 bilhões.
Ao mesmo tempo, a margem líquida das empresas acusou forte retração de 1,68 ponto porcentual, baixando para 0,23%, ao passo que a dívida líquida cresceu 43,4%, saltando de R$ 38 bilhões para R$ 55,6 bilhões, em igual período. O retorno sobre o patrimônio (ROE) nos últimos 12 meses – importante métrica para o mercado financeiro – por sua vez, ‘encolheu’ 5 pontos percentuais, chegando a 8,4%.
No segmento varejista, o caso mais crítico foi apresentado pelo Carrefour, cujo lucro de R$ 370 milhões em 2022 se converteu em prejuízo de R$ 113 milhões no 1T23, o que corresponde a um declínio de R$ 483 milhões.
Outro exemplo marcante é do Magazine Luiza, cujo prejuízo saltou de R$ 161 milhões para R$ 391 milhões, o que lhe valeu o título de resultado mais negativo nos primeiros três meses do ano.
Já pelo critério de lucro líquido ajustado, porém, o Carrefour é o que ostentou maior prejuízo, no montante de R$ 421 milhões, seguido do Magazine Luiza, com R$ 309 milhões.
Importante destacar que o estudo do Trademap excluiu a Americanas – em processo de recuperação judicial e com uma dívida avaliada em R$ 43 bilhões – que não apresentou resultados financeiros neste ano.
A despeito das dificuldades enfrentadas pelo segmento varejista nacional, em especial, no primeiro trimestre, o pagamento de dividendos para acionistas aumentou de R$ 38,7 bilhões para R$ 55,6 bilhões.
Em que pese o cenário desafiador para o comércio tupiniquim, a expectativa de analistas é de que, ao longo deste ano, o lucro das empresas comerciais e de varejo continue sendo ‘pressionado’ pelas dificuldades macroeconômicas, o que demandará contenção de despesas e ajustes de operação, para que estas se mantenham ‘vivas’ no mercado.
Na perspectiva, o sócio-diretor da Gouvea Consulting, Jean Paul Rebetez avalia que o varejo alimentar e o de materiais de construção são os segmentos que podem apresentar melhor performance, em decorrência de incentivos do governo, voltados às classes C e D. Em contraponto, segmentos que mais dependem de crédito ao consumidor, como os eletroeletrônicos, deverão ser mais penalizados, tendo em vista o aperto monetário que mantém elevados os juros.
“São três despesas mandatórias no varejo: ocupação, mão de obra e estoque. Se comprar muito estoque e não vender, o custo sobe diante do juro alto. Se não tem mão de obra o suficiente, fica com muito estoque. O negócio do varejo é cruel. Se a indústria está mal, corta turnos. No varejo, não tem como fazer isso. A solução é fechar lojas ineficientes, como fez a Marisa. O que o varejo pode fazer em momentos difíceis é racionalizar a operação, diminuir despesas e reduzir mão de obra”, concluiu Rebetez.
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