Economia
Para estabilizar a dívida pública, basta ao país obter um superávit de 1% do PIB
A receita de equilíbrio fiscal do Santander leva em conta previsão de alta de 13,5% do Agro
Ao contrário da ‘crença’ do governo federal, a ‘sonhada’ estabilização da dívida pública não requer, necessariamente, que o déficit fiscal seja zerado, mas bastaria que o país obtivesse um determinado nível de superávit, por volta de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que equivaleria hoje a um montante em torno de R$ 10 bilhões.
A avaliação partiu da economista-chefe do Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, em entrevista coletiva, durante a conferência mundial do banco de origem espanhola. “Não basta estabilizar o déficit, precisa alcançar superávit de ao menos 1% do PIB”, afirmou a executiva, ao pontuar que “a principal fragilidade do Brasil é fiscal”, ainda repercutindo a declaração do mandatário Lula da Silva, de que o governo não deve conseguir zerar o déficit no ano que vem.
Embora a situação fiscal ‘inspire cuidados’, ao menos a atividade econômica apresenta sinais de vitalidade. “Fomos surpreendidos por um crescimento econômico mais favorável, que deve ficar entre 2,5% a 3% este ano”, disse a economista, ao apontar, entre os fatores responsáveis por tal desempenho favorável, a superssafra agrícola, com destaque para a soja. Se considerado apenas o PIB agrícola, a expansão em 2023 deve chegar a 13,5%.
Ainda que, neste ano, tenha havido uma arrancada inesperada da atividade econômica, para o próximo, a instituição ibérica prevê que será um período de ‘ajuste’, em que pese a melhoria dos indicadores econômicos, pois a alta inadimplência das famílias começa a recuar; a inflação deve apresentar dinâmica consistente de queda, mediante a expectativa de que o IPCA fique abaixo de 3,8%, no final de 2024.
Diante do cenário descrito, a expectativa do Santander é de que o Banco Central (BC) deve continuar mantendo a agenda de corte dos juros, com a Selic (taxa básica) chegando ao final de 2024 em 9,5% ao ano, previsão, porém, ainda condicionada aos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central estadunidense) com relação aos juros ianques.
“Eu diria que o Brasil dispõe de uma situação externa como poucos países têm hoje”, acentuou Ana Paula, ao estimar que o superávit comercial pode superar US$ 85 bilhões, de modo a permitir a cobertura integral dos déficits da conta corrente, sem contar o ingresso no país de um aporte entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões em investimento externo direto. “O Brasil tem uma situação externa sólida, mas uma posição fiscal frágil”, sentenciou.
Mesmo preocupante, o prognóstico para 2024 tem ‘como boa notícia’ a perspectiva de que a safra agrícola deve continuar positiva, reforçada pela recuperação da pecuária. “Brasil tem desafio econômico sim, mas está muito bem posicionado em questões de transição energética”, arrematou a economista do Santander.
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