Problemas financeiros constantes podem afetar a inteligência

A crise financeira tem feito uma boa parte da população fazer malabarismos para conseguir pagar as contas. Quando algum imprevisto acontece, algumas saídas podem conduzir as finanças para um poço difícil de sair.

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Além do prejuízo financeiro, um cientista comportamental chamado Eldar Shafir e um economista chamado Sendhil Mullainathan chegaram à conclusão que repetidos esforços para controlar a vida financeira pode acarretar em consequências para a cognição.

No livro Escassez – Uma Nova Forma de Pensar a Falta de Recursos na Vida das Pessoas e nas Organizações, que foi lançado em 2013, a dupla cria o termo Banda Larga Mental para explicar este fenômeno.

Segundo eles, a capacidade cerebral nestes casos funciona como um computador, onde muitas abas estão abertas e a velocidade do aparelho acaba ficando lenta, devido à sobrecarga.

Com a cabeça é a mesma coisa. O excesso de pensamentos sobre problemas financeiros faz com que o cérebro sobrecarregue de informações, levando a tomada de decisões ruins.

“A banda larga mental é muito limitada. Muitas vezes você precisa focar na urgência do agora e faz isso com competência: resolve o problema. Mas se esse movimento ocorrer o tempo inteiro nunca será suficiente. Vai negligenciar outras áreas da sua vida“, explicou Shafir.

Em um experimento feito pela dupla, algumas pessoas de variadas condições econômicas foram selecionadas em um shopping. Para elas, foi apresentado um caso para avaliar a tomada de decisões.

Primeiro foi apresentada aos participantes a seguinte situação: O carro deles havia quebrado e seria necessário US$ 300 para arrumar.

Logo após a situação, foram aplicados testes de Raven, com o objetivo de medir a inteligência fluida dos participantes. O resultado encontrado é que não houve diferença entre ricos e pobres.

Após, eles mudaram a quantia a ser desembolsada para arrumar o veículo, de US$ 300 para US$ 3.000, desta forma, houve uma diferença significativa. Os mais pobres chegaram a ter queda de 13 pontos no método aplicado.

“Se eu cometo um erro, se faço um mau investimento, se esqueço de pagar uma taxa, é só uma irritação. Mas a vida segue. Se você é pobre e comete esses mesmos erros, o preço na vida será muito mais alto. Há menos espaço para erros, assim a vida fica mais complicada, mais difícil“, diz Shafir.

Embora a crença popular – e até especialistas – digam que a pobreza e as dívidas são resultado da falta de responsabilidade financeira, uma pesquisa feita pelo Serasa mostrou que 70% das dívidas de cartão de crédito são oriundas de supermercados por compras de comida.

Isso significa que a maior parte das pessoas, que estão com o nome sujo na receita, estão nessa situação por conta de um direito básico que todos deveriam ter.

Além disso, em 2019 houve um estudo que mostrou que 67% dos brasileiros não conseguem juntar dinheiro, sendo que 40% destes, disse que a renda é muito baixa para isso. Os dados foram levantados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

Segundo Shafir, embora a responsabilidade seja importante, não é o suficiente se você não tem meios para se prevenir.

“Nós sempre damos o exemplo dos pilotos de avião. Se a cabine de pilotagem foi bem projetada, bem construída, e o piloto é responsável e tem bom conhecimento da função, a pilotagem irá bem. Se houver problemas estruturais na cabine, pilotos muito capazes e responsáveis podem derrubar um avião.”