Hygo pode suspender IPO em NY após CEO ser citado na Lava Jato, afirmam fontes

A Hygo Energy pode cancelar sua oferta pública inicial de ações (IPO) depois do presidente-executivo da empresa de gás natural liquefeito, Eduardo Antonello, ter sido citado na primeira fase de uma investigação da operação Lava Jato, afirmaram fontes ligadas ao assunto.

O executivo ainda não recebeu acusações formais de autoridades brasileiras, mas afastou-se do cargo na terça-feira para se defender das alegações, segundo seus advogados e a própria empresa. As alegações contra ele remetem a 2011.

A listagem da joint venture entre a Golar LNG e a empresa norte-americana de private equity Stonepeak Infrastructure Partners já foi adiada por várias semanas. Com início previsto para a quinta-feira passada, a negociação das ações da Hugo foi postergada após a Bolsa de Valores de Nova York suspendê-la sem apresentar a razão.

Desde o cancelamento, Hygo e Golar não informaram uma nova data para a operação.

Em nota enviada por e-mail na terça-feira, a defesa de Antonello disse que alegações falsas de corrupção feitas por criminosos confessos foram divulgadas prematuramente e sem provas pelas autoridades brasileiras, causando injusto dano à reputação do executivo.

O IPO está previsto em 485 milhões de dólares, e tinha por objetivo promover no Brasil o uso do gás natural líquido como alternativa mais limpa ao diesel, petróleo e carvão. O cancelamento também ocorre em meio à com a tentativa do país de abrir sua indústria de gás natural para investidores privados.

“O entrave deve ter um impacto na avaliação da Hygo e possivelmente na capacidade da empresa de conquistar novos negócios”, disse em nota a clientes o analista da Stifel, Benjamin Nolan.

Um retorno para acionistas da Golar deve levar mais tempo, inclusive por possíveis condições menos favoráveis para a empresa rolar sua dívida, afirmou Nolan, que mesmo assim manteve a recomendação de compra para os papeis.

“Apesar do risco elevado, nós acreditamos que o potencial de ganho é substancial e continuaríamos sendo compradores”, explicou.

Em comunicado, a Hygo afirmou que o afastamento de Antonello “não está ligado, de forma alguma, a qualquer ação ou conduta imprópria durante sua passagem pela Hygo”.

Uma das fontes disse ainda que a Hygo contratou o escritório de advocacia Simpson Thacher & Bartlett para avaliar a viabilidade do prosseguimento da oferta inicial de ações.

A operação ficará na espera até que os advogados emitam um relatório nas próximas semanas, garantiu a fonte sob a condição de anonimato. Outra fonte também disse que o IPO foi adiado, e que os planos podem ser postos de lado.

A Hygo disse, em e-mail à Reuters, que espera retomar os planos do IPO dentro de seis semanas. Perguntada sobre a contratação de Simpson Tacher, a empresa assumiu que possui uma empresa especializada para a condução de “due diligence” interno, mas não divulgou seu nome.

À Reuters, a Golar disse que as funções do executivo serão assumidas temporariamente pelo conselho de administração da Hugo.

Na fase mais recente da operação Lava Jato realizada na semana passada, a Polícia Federal conduziu uma operação surpresa de busca contra o antigo empregador de Antonello, a Seadrill, em endereços que incluíam os escritórios da Golar no Brasil.

“Com muita cautela, a Hygo iniciou uma revisão para buscar a confirmação de que não houve qualquer desvio de sua cultura de conformidade em relação ao trabalho do sr. Antonello para a Hugo”, disse a Golar em comunicado.

Os papeis da Golar LNG perderam cerca de metade de seu valor desde a quarta-feira passada, quando autoridades executaram os mandados de busca e apreensão.

A Simpson Thacher & Bartlett, a Stonepeak e a Bolsa de Valores de Nova York não retornaram imediatamente aos pedidos para falarem sobre o assunto.

A Hugo reiterou que as irregularidades não dizem respeito ao período em que Antonello atuou na empresa. Assim como ela, a Golar LNG disse que as alegações contra Antonello são anteriores ao período em que ele trabalhou na companhia.