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Challenge #QuitTok: Por que jovens estão se demitindo ao vivo pelo TikTok?

Vídeos de pedidos de demissão estão atraindo milhares de curtidas na plataforma chinesa. Tendência chama a atenção de especialistas

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Um comportamento inusitado, principalmente entre pessoas jovens, chama a atenção no TikTok. A rede social chinesa está repleta de vídeos de usuários que compartilham, ao vivo, o momento em que eles pedem demissão do trabalho.

Aquela situação tensa e de decisão privada, quando uma pessoa decide se demitir, virou uma fonte inesgotável de registro em tempo real e de criação de conteúdo. Em alguns casos, os vídeos chegam a obter milhões de visualizações.

Algo semelhante já havia ocorrido durante a pandemia da Covid-19, quando vídeos de pedidos de demissão começaram a viralizar, mas a tendência cresceu tanto, nos últimos meses, que já ganhou até uma tag própria: a #QuitTok – “quit” significa desistir ou deixar um trabalho em inglês.

Como acontece?

Vídeos marcados com essa hashtag adotam diferentes formas de registro, que variam conforme a realidade trabalhista de cada pessoa.

Os tiktokers chegam a mostrar desde a demissão ocorrida via chamada ao vivo pelo Zoom, no caso de quem trabalha em esquema home office, até a entrega presencial da carta de desistência para o chefe.

Como uma forma de demonstrar alívio e estimular a libertação em outros usuários, os vídeos capturam o instante exato da demissão, e em tempo real.

Alguns exemplos

Em setembro de 2022, uma ex-funcionária do governo australiano compartilhou no TikTok o momento em que ela clicou em “Enviar” para mandar o e-mail com o pedido de demissão, enquanto aguardava ansiosa por uma chamada de vídeo com o chefe.

Nos meses anteriores, Christina Zumbo já havia compartilhado com seus mais de 140 mil seguidores na plataforma os problemas de saúde mental que ela enfrentando, relacionados ao trabalho. Outras pessoas se identificaram com a questão e o engajamento foi enorme.

O vídeo do pedido de demissão de Zumbo obteve mais de 53 mil curtidas e cerca de 3 mil comentários. A mulher, que mora em Brisbane, na Austrália, ficou surpresa com a expressividade do retorno.

“Tirei uma pata de elefante do peito”

Nos Estados Unidos, outra mulher, de 29 anos, conquistou seguidores no TikTok compartilhando conteúdos sobre o próprio trabalho e as dificuldades que enfrentava no dia a dia até que decidiu se demitir ao vivo. Ela atuava numa companhia de aparelhos para uso médico.

Maria Jo Mayes, que vive no estado do Arizona, ganhava um bom salário, que a permitia viajar e trabalhar com grandes nomes do setor, mas era totalmente infeliz e chegou a desenvolver burnout, sem capacidade de pensar em nada além do próprio trabalho.

Depois de muito refletir, a decisão e a atitude prática foram compartilhadas por ela em um vídeo de 30 segundos, no TikTok. Mayes mostrou, nas imagens, os momentos de tensão antes de ligar para o chefe pedindo demissão e o alívio imediato, em seguida.

“É como tirar uma pata de elefante do meu peito”, escreveu ela na legenda do vídeo, que já obteve mais de 200 mil curtidas.

Quais são as causas disso?

Refletir sobre o que está por trás desse comportamento e da maneira como as pessoas optam por tornar pública uma decisão tão pessoal é algo necessário. O que está acontecendo no mercado de trabalho? O que pensam e esperam os trabalhadores mais jovens?

Primeiro, é bom destacar que a maioria dos usuários do TikTok cresceu como nativos digitais e acostumados a compartilhar qualquer tipo de conquista na internet, de maneira natural. É algo comum para eles.

As experiências dessa geração foram construídas, em muito, pela vida online. A tendência #QuitTok, no entanto, pode sugerir uma mudança sensível de percepção e comportamento trabalhista.

Especialistas veem nos mais jovens um entendimento maior a favor do equilíbrio entre vida pessoal e as rotinas de trabalho. A chamada geração Z preocupa-se bastante com saúde mental, felicidade e positividade em ambientes empresariais.

Demitir-se de uma relação tóxica de emprego e enfrentar chefes injustos tornou-se algo inspirador, ou seja, um prato cheio para compartilhamento nas redes sociais, com vídeos capazes de influenciar outras pessoas e obter milhares de “likes”.

Consequências

A longo prazo, ainda é incerto que tipo de consequência esse comportamento poderá causar. Especialistas do mercado de trabalho ainda não sabem dizer, exatamente, se a divulgação de pedidos de demissão no TikTok é algo que poderia dificultar a conquista de empregos futuros.

O que pode acontecer, talvez, diante da divulgação e publicidade desses casos, é uma reação do mundo corporativo, no sentido de melhorar as rotinas e propiciar ambientes mais saudáveis para os trabalhadores.

Afinal, ver a própria marca associada, negativamente, a uma questão de saúde mental do trabalhador ou divulgada em um #QuitTok não seria nada bom.

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com especialização em Comunicação Digital, e que trabalha há 14 anos como repórter e redator

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