Delta pode ter que assumir dívida de US$ 300 milhões da Gol

O prazo aproxima para que ex-sócia da Delta Air Lines, a Gol, quite um empréstimo de 300 milhões de dólares feito pela empresa norte-americana. Se até segunda-feira a companhia brasileira não pagar, a Delta terá que assumir a dívida honrando o acordo de cinco anos.

Contudo, a companhia norte-americana disse em julho estar queimando 27 milhões de dólares por dia, ficando com pouco para gastar devido à pandemia de Covid-19.

Esse é apenas mais um dos problemas da Delta, cujos investimentos na América Latina que eram vistos como uma área de crescimento, fracassaram devido à pandemia. Enquanto a Delta na Aeromexico e a Latam Airlines passam por reestruturação por recuperação judicial ou falência, o risco de diluição ou perder sua participação respectiva de 49% e 20% nas companhias aumenta.

O empréstimo foi concedido à Gol por investidores privados não identificados, e seu vencimento ocorre durante uma severa crise de caixa na companhia “A Gol está enfrentando queima de caixa constante sem possibilidades de refinanciamento”, disse Amalia Bulacios, que cobre a Gol para a S&P, que classifica sua dívida como CCC-.

Segundo a Reuters, a empresa poderia ter apenas 1,6 bilhão de reais em caixa antes de pagar o empréstimo. O cálculo é baseado no caixa e equivalentes da Gol, bem como seus investimentos líquidos, em 30 de junho, menos o consumo de caixa esperado de 3 milhões de reais por dia.

“Faltam três dias úteis para o prazo e a empresa está muito calada; não está claro se há negociação em andamento”, apontou Bulacios.

Até agora nenhuma das duas falou sobre uma possível negvociãoaç, mas fonte familiarizada com o assunto disse que elas estão ocorrendo.

Em maio, a colombiana Avianca passou por um caso parecido quando entrou com pedido de falência devido ao prazo de amortização da dívida no dia seguinte. Contudo, as necessidades de reestruturação da Gol são bem mais simples do que as da Avianca e podem ocorrer fora do tribunal, mesmo que levantar dinheiro na última hora pareça bem improvável.

O governo brasileiro já oferecer à Gol 2 bilhões de reais em empréstimos, mas o montante não será liberado a menos que a companhia pague sua dívida no prazo, dizem fontes ligadas ao assunto. O valor deve ser aplicado ​​nas operações da companhia aérea, e não para pagar credores.

No mês passado, executivos da companhia disseram que são baixas as perspectivas de levantar novo capital. “Há uma certa aversão ao Brasil, uma certa aversão às companhias aéreas, e então estamos no meio disso”, informou o vice-presidente de finanças da Gol, Richard Lark.

A Gol é mais um reflexo do coronavírus nas aéreas em todo o mundo. Em meio a crise que já afetava outros países, a empresa não só garantiu o pagamento do empréstimo, como disse que o faria antes do vencimento. Em 25 de fevereiro, mesmo com a pandemia devastando a Ásia e a Europa, uma apresentação da Gol disse que a companhia aérea “não tinha vencimentos relevantes nos próximos cinco anos”.

Mas o jogo virou, o o futuro da empresa está em risco por causa do vencimento de um empréstimo antes aparentemente insignificante. Em 2015, a Delta injetou 56 milhões de dólares na Gol e assegurou o empréstimo de 300 milhões. Na ocasião, executivos da Gol disseram que não poderiam ter aumentado a dívida sem o suporte da norte-americana.

A Delta tem garantia do empréstimo e, se a Gol não quitar o deve, a norte-americana poderá ficar com a participação da aérea brasileira na empresa de programa de fidelidade Smiles, que garantiu o empréstimo, mas que vale apenas 954 milhões de reais.

Visto que a delta vendeu sua participação na Gol em 2019 e a trocou pela Latam, o programa de fidelidade tem pouco valor estratégico.

Para o ex-chefe da Anac, Ricardo Fenelon, isso não fará muito sentido. “Se a Delta fizer isso, estrangulará o caixa da Gol, colocará em risco a sobrevivência da Gol e se tornará acionista da Smiles, uma empresa que precisa da Gol para ter sucesso”.