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Europa: Partidos de extrema-direita ganham cadeiras no parlamento e provocam reações

Pobreza, imigração e guerra explicam o fato.

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O aumento da pobreza na população europeia, a reação ao fluxo constante de imigrantes e a guerra na Ucrânia ajudam a explicar o resultado das eleições ao Parlamento Europeu desta semana, com a extrema-direita ganhando força especialmente na França e na Alemanha, as duas maiores economias do bloco. Essa é a avaliação de especialistas consultados pela Agência Brasil.

Os três professores de relações internacionais entrevistados ressaltaram que, apesar do avanço da extrema-direita em alguns países, como França, Alemanha, Áustria e Bélgica, esse crescimento foi limitado.

Giorgio Romano Schutte, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), enfatizou que o resultado da eleição foi misto, com a extrema-direita avançando em países como França e Alemanha, enquanto políticos progressistas tiveram mais sucesso em países nórdicos, como Dinamarca, Suécia e Noruega. Ele observou que a extrema-direita não obteve mais de 20% dos votos, não ameaçando a continuidade do atual governo da União Europeia.

Europa

Na Hungria, onde a extrema-direita governa há 14 anos, o apoio ao primeiro-ministro Viktor Orbán caiu de mais de 50% para 44%. Na Polônia, venceu o partido de centro-direita, e na Holanda, a extrema-direita foi derrotada pela centro-esquerda após ter ficado em primeiro lugar em uma eleição nacional recente.

Mesmo na Itália, onde a primeira-ministra Giorgia Meloni, do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, está no poder, o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, obteve 27% dos votos, ficando apenas 4 pontos atrás do partido de Meloni.

O avanço da pobreza no bloco europeu e o aumento dos preços da energia, em parte devido à guerra na Ucrânia, explicam o resultado das eleições ao Parlamento Europeu, especialmente na Alemanha e França, onde a extrema-direita tem se posicionado contra o apoio incondicional à Ucrânia. Natalia Fingermann, professora de relações internacionais do Ibmec de São Paulo, destacou que a população questiona o apoio à guerra enquanto enfrenta empobrecimento.

Situação varia

Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da UFABC, disse que a situação varia de país para país, mas que na França e Alemanha, a economia e o apoio à OTAN têm corroído o apoio aos governos atuais. A indústria alemã perdeu competitividade ao trocar o gás russo pelo mais caro gás GLP importado dos Estados Unidos, afetando a popularidade do chanceler Olaf Scholz.

Na França, o partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional, liderado por Marine Le Pen, chegou em primeiro lugar nas eleições europeias, levando o presidente Emmanuel Macron a convocar novas eleições para o Parlamento francês. Le Pen tem se fortalecido com um discurso anti-imigração, aproveitando o aumento dos fluxos migratórios.

O avanço da extrema-direita na Europa, embora limitado, pode influenciar a agenda ambiental global, já que esses partidos negam o consenso científico sobre o aquecimento global. Isso pode ter implicações para o Brasil, que busca liderança nessa área.

Natalia Fingermann avalia que mudanças na Europa e nos Estados Unidos em relação à pauta ambiental podem dificultar a posição do Brasil no cenário internacional. Mobilizações de fazendeiros na França contra mudanças nas regras ambientais que prejudicariam a agricultura local são um exemplo dessa resistência.

Questões sociais

Giorgio Romano Schutte afirmou que, sem considerar questões sociais e de soberania energética, a pauta ambiental enfrentará resistência. Gilberto Maringoni acrescentou que o impacto do avanço da extrema-direita na pauta ambiental ainda é incerto.

Para combater a extrema-direita, partidos de centro-direita e centro-esquerda na Europa têm adotado pautas mais duras contra a imigração e reduzido as regras de proteção ambiental. Um exemplo é o recém-criado partido alemão de esquerda BSW, que defende restrições à imigração.

Natalia Fingermann alertou que o avanço da extrema-direita pode impactar o apoio a mecanismos internacionais como o Banco Mundial e a ONU, e fortalecer a posição do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na guerra na Faixa de Gaza.

O parlamento

O Parlamento Europeu, com 702 cadeiras, tem funções limitadas em comparação aos parlamentos nacionais, mas atua nas relações comerciais e diplomáticas da União Europeia. Segundo Gilberto Maringoni, os resultados das eleições funcionam mais como um termômetro das relações internas da Europa.

Natalia Fingermann destacou que o Parlamento Europeu também influencia a entrada e saída de pessoas e mercadorias, além das relações com outros países e instituições internacionais.

(Com Agência Brasil).

Redatora. Formada em Técnico Contábil e Graduada em Gestão Financeira. Contato: simonillalves@gmail.com.

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