Economia
Incertezas mantêm investidor estrangeiro distante de leilões
Riscos fiscais, políticos e cambiais tendem a limitar participação externa
Um conjunto de incertezas (desde fiscais, políticas e cambiais), diretamente relacionado com as pretensões eleitorais de um presidente em permanente conflito com os fatos, traz como efeito concreto a decisão, pelo menos por enquanto, do investidor estrangeiro permanecer distante do mercado nacional, em especial, no que toca às novas rodadas de concessões no país.
Presença restrita – Na avaliação de especialistas, consultores e economistas, deverá ser restrita a presença de fundos de investimento, empresas e consórcios nos próximos leilões programados por aqui, que devem dar foco apenas às operações já existentes.
Um ano – A tese é endossada pelo economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, segundo o qual, “como não se sabe quem ganha a eleição em 2022, é natural que os novos investidores aguardem um ano para entrar no país”.
Aguardar eleição – Cético, o executivo da Inter.B Consultoria, Claudio Frischtak, entende que há “uma demanda enorme por investimentos em infraestrutura, embora não veja novos players estrangeiros participando com força nas próximas licitações”. Segundo ele, tais players vão preferir aguardar um pouco mais para saber quem vencerá a eleição do ano que vem, e como será a equipe econômica.
Nova Dutra – Somente este ano, são esperados 11 leilões na área de transportes – dois deles projetos rodoviários e nove arrendamentos portuários, com destaque para a Nova Dutra, a ser concedida, em conjunto com Rio-Santos. Para 17 de dezembro estão marcados leilões de petróleo, como a segunda rodada do leilão do excedente da cessão onerosa.
Relicitação no RN – No setor de aviação, a programação, para 2022, é de relicitar o aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN); concessões rodoviárias das BRs 116, 493 e 465 (entre Rio de Janeiro e Governador Valadares); desestatização portuária da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) e de 16 aeroportos, dentre eles, os de Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ).
Risco Ambiental – Igualmente o risco ambiental contra santuários como Fernando de Noronha ou Atol das Rocas desestimulou o interesse do investidor pelo leilão de exploração de campos de petróleo da Agência Nacional do Petróleo, a ponto que, dos 92 blocos oferecidos, apenas cinco foram arrematados pela Shell e a colombiana Ecopetrol, ambos já com operações.
Minoria estrangeira – Do mesmo modo, dos 33 ativos leiloados pelo Ministério da Infraestrutura neste ano, a maioria teve investidores locais como vencedores, cabendo aos estrangeiros arrematar apenas oito ativos.
Mercado maduro – Outra explicação dá o sócio-fundador da consultoria Pezco, Frederico Turolla, para quem o investimento estrangeiro cedeu em todo o mundo, em razão da pandemia, desaconselhando a preferência por mercados mais maduros, como o nosso, que não recomendaria ‘estreantes’.
Profusão de demandas – Ao mesmo tempo, a profusão de demandas de compliance e ESG (sigla para meio ambiente, social e governança) exigida dos marcos regulatórios e modelos de licitação também acaba afastando potenciais interessados, que não preenchem tantos requisitos técnicos.
Contratos malfeitos – Nesse sentido, Turolla observa que esse “movimento de devolução, ao governo, de ativos concedidos em anos anteriores é sinal de contratos malfeitos”, em contrastes com as novas concessões, estruturadas com base em estudos em profundidade.
Financiamento externo – Em contraponto, a secretária de Fomento, Planejamento e Parcerias do Ministério da Infraestrutura, Natália Marcassa, entende que há, sim, estrangeiros interessados nos ativos nacionais, mas lembra que, “em muitos consórcios, os operadores já estavam no país, mas o financiamento vem de estrangeiros”.
Participação rápida – “É importante entender que temos players estratégicos, que são os operadores, e o player financeiro, que entra muitas vezes participando da empresa e não do consórcio vencedor”, explicou Natalia, que acompanha, em Nova Iorque, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, em um roadshow na semana passada com potenciais investidores.
Road show – A previsão governamental é de que o road show nos EUA resulte US$ 2 bilhões (cerca de R$ 11 bilhões) em créditos do Bank of America, que se destinam a investimentos em infraestrutura no Brasil. Até o fim de 2022, a instituição global tem a meta de investir R$ 260 bilhões em investimentos privados na infraestrutura de transportes nacional.
Ingenuidade – Ao citar que persiste, independente de crises, o interesse de firmas e fundos europeus, americanos, asiáticos e canadenses no país, a secretária considera “um pouco ingênuo falar que não tem estrangeiro nos leilões. Na verdade, eles estão vindo, tanto como consorciados, tanto com capital financeiro investindo nos consórcios”, conclui.
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