Mercado de plantas raras está aquecido no Brasil – mas cercado de polêmica

O fascínio por plantas ornamentais cresceu consideravelmente no mundo, o que acabou destacando espécies brasileiras quase extintas. Demonstrações desse interesse têm inundado as redes sociais.

O Instagram, em particular, tornou-se uma vitrine para essas plantas raras, mais visíveis online do que em seus habitats naturais. A Philodendron spiritus sancti, nativa do Espírito Santo, é um exemplo dessa tendência, com mais de 4 mil menções na plataforma.

A cobiça por essas plantas resulta em valores exorbitantes, alcançando até R$ 150 mil. Enquanto os colecionadores exibem suas preciosidades em “urban jungles”, o comércio ilegal floresce.

A extração predatória levou a trepadeira capixaba à Lista Vermelha do Centro Nacional de Conservação da Flora, classificada como “em perigo”.

Apesar de ser ilegal coletar e comercializar essas espécies, existem anúncios em plataformas como o Mercado Livre, que já retirou anúncios de espécies ameaçadas após denúncias.

Muitos colecionadores justificam a posse dessas plantas como forma de preservação ex situ, mas as críticas persistem.

O mercado das plantas raras

Philodendron spiritus sancti – Imagem: Polícia Federal/divugação

A Philodendron spiritus sancti é cobiçada por sua raridade e elegância, embora menos vistosa que outras da família Araceae.

Colecionadores renomados defendem que a divulgação dessas plantas promove a conscientização sobre sua preservação. Entretanto, essa exposição também pode incentivar a demanda e, consequentemente, a extração ilegal.

Para muitos, possuir plantas raras simboliza prestígio. Flávio Yukio Motonaga, colecionador profissional ouvido pela BBC Brasil, critica a exposição dessas espécies como troféus nas redes sociais.

Enquanto isso, a bióloga Leyde Nayane, também ouvida pela BBC Brasil, alerta para a cadeia de impactos ambientais gerados pela extração dessas plantas de seus habitats naturais.

O impacto do comércio ilegal

O tráfico de plantas raras continua sendo uma preocupação. Em abril, um homem foi preso no aeroporto de Rio Branco com mudas da spiritus sancti, que seriam vendidas internacionalmente.

No entanto, é no exterior que essas plantas alcançam preços exorbitantes, destacando-se em mercados como o Etsy, onde são vendidas por até R$ 152 mil.

Soluções propostas

Especialistas sugerem que permitir a reprodução em viveiros comerciais poderia reduzir a pressão sobre as espécies selvagens. Contudo, Suzana Ursi, professora em Botânica, argumenta que isso não solucionaria a questão, já que a demanda por raridades migraria para novas espécies.

Embora colecionadores possam desempenhar um papel positivo na conservação de plantas raras, a necessidade de equilibrar o interesse pessoal com a proteção ambiental é urgente.

Soluções sustentáveis e políticas de conservação eficazes são essenciais para proteger essas joias botânicas.