Política
O abafa e afaga de Tarcísio com o bolsonarismo tem prazo para acabar
Quando ficar claro que Lula avança no Congresso e a extrema-direita tenderá a minguar ficando isolada, o governador de SP assume sua candidatura oficialmente ao Planalto
A reprise da história deste domingo em alguns veículos, atribuindo ao governador carioca de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a fala de que ainda permanece leal ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo “não concordando com tudo”, uma hora vai acabar.
Mesmo negando ou não afirmando ser candidato ao Planalto em 2026, vai ser e acabou. Quando se convencer a tornar público esta intenção, que nenhum governador paulista em exercício do cargo se nega, adeus Jair e sua troupe.
Até lá, ele abafa e afaga o bolsonarismo. Como foi o abafa apoiando “95%” da reforma tributária, ao lado do ministro Fernando Haddad, que lhe rendeu vaias e uma reprimenda do ex-presidente na reunião com a extrema direita em Brasília no dia da votação na Câmara.
Depois, voltou a afagar.
Esse equilibrismo vai acabar mais dia menos dia quando Tarcísio de Freitas perceber que com a extrema direita ele não se elegerá, inclusive porque ela tende a ir se esfarelando sozinha junto com o seu “patrono”.
Na medida em que o presidente Lula for garantindo mais vitórias na Câmara – a volta do arcabouço fiscal etc -, e com a facilidade já demonstrada no Senado, a ala mais radical do PL de Bolsonaro irá ficar mais isolada. Em dois turnos fáceis, o governo conseguiu a aprovação por 328 contra 118 votos contrários.
E talvez essa mesma ala mais radical, que deu 75 “não” na votação da quinta, de 95 parlamentares, vá ficando mais minguada à revelia ou com o beneplácito do cacique da legenda, Waldemar Costa Neto.
Ao mesmo tempo, o partido Republicanos do governador já está quase todo na “mão” do governo do PT. Garantiu 36 votos “sim”, dos 41 deputados.
Quem manda nessa legenda que aglutina a maior parte da bancada evangélica é Edir Macedo, da Universal do Reino de Deus e dono da TV Record, e a Testemunhas de Jeová.
Macedo já está tentando fazer o “L”, como o SBT de Silvio Santos. Afinal, enquanto Lula vai esvaziando os extremistas do poder de decisão com a irrigação de emendas parlamentares – somente na quarta, véspera da votação da Reforma, foram R$ 5,3 bilhões -, o pragmatismo de olho nas verbas publicitárias oficiais também fala alto.
Para completar, Freitas é governador do estado que mais pesa na economia, cujo interesse ne reforma tributária é majoritariamente a favor – ainda que a classe empresarial tenha perdido o Carf – e ele não irá contrariar essa tendência.
Se a “Faria Lima” embicar definitivamente, como já demonstra, para os lados do governo, será a pá de cal na banana de o governador dará para Bolsonaro, mesmo com toda elegância e cerimonial do mundo.
O governador não leva a esquerda, mas ganha o centro e os antipetistas democráticos.
Vale lembrar que ao grupo político de Tarcísio de Freitas, que tende a ir se fortalecendo, não escapa uma outra conclusão bastante cristalina em 2024, quando as candidaturas à presidência estarão mais visíveis, especialmente após as eleições municipais.
Sem Bolsonaro no páreo, inelegível, a extrema direita vai apoiar quem? Tarcísio, é óbvio, se não ficará mais órfã ainda.
“Se não tem tu, vai tu mesmo”, reza a sabedoria política.
Ah, e a Michele, como foi o balão de ensaio em torno do nome da ex-primeira-dama, como “meu capitão” por trás – e se ele deixar.
O que vale para Tarcísio vale para ela também: a extrema direita não elegerá mais ninguém.
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