Saúde
O lado sombrio do Paracetamol: agora, principal causador de falência hepática
O paracetamol, um dos medicamentos mais consumidos em todo o mundo, tem sido uma presença constante nas prateleiras das farmácias, facilmente acessível sem a necessidade de receita médica.
Com vendas impressionantes de 49 mil toneladas anualmente nos Estados Unidos e uma média de 70 unidades por pessoa no Reino Unido, esse fármaco se tornou uma escolha popular para o alívio de dores e febres.
Entretanto, apesar de ser conhecido há mais de um século, o paracetamol ainda guarda segredos, pois os cientistas ainda não desvendaram completamente seu mecanismo de ação. As evidências sobre sua eficácia também são variáveis, levantando questões sobre a real utilidade desse medicamento em algumas situações.
Um dos pontos mais alarmantes é o risco de overdose associado ao paracetamol, que se tornou a principal causa de falência do fígado nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Essa situação levou várias entidades de saúde a emitirem alertas nos últimos anos, destacando a alta disponibilidade dos comprimidos e a falta de orientações claras sobre os limites de consumo.
A história do paracetamol remonta ao final do século XIX, quando o químico alemão Joseph von Mering publicou estudos pioneiros sobre a molécula em 1893.
No entanto, a substância permaneceu restrita à pesquisa até o lançamento comercial nas farmácias dos Estados Unidos e Austrália na década de 1950, com o nome comercial que se tornaria famoso mundialmente: Tylenol.
Curiosamente, apesar de sua popularidade e uso contínuo, o mecanismo exato pelo qual o paracetamol age no corpo para reduzir a dor ou baixar a febre ainda é desconhecido.
Acredita-se que possa interferir nas ações de enzimas conhecidas como ciclooxigenases (COX), relacionadas à sensação dolorosa e ao aumento da temperatura corporal. Estudos também sugerem uma ação do fármaco em neurotransmissores e vias cerebrais, o que poderia explicar seu efeito analgésico.
As prateleiras das farmácias estão repletas de opções de paracetamol, seja sob nomes comerciais como Tylenol ou em genéricos, bem como em combinação com outros princípios ativos. O medicamento é encontrado em mais de 600 produtos farmacêuticos diferentes, de acordo com a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos.
Contudo, a eficácia do paracetamol tem sido objeto de controvérsia, especialmente em relação a diferentes tipos de incômodos. O Instituto Cochrane, que revisa evidências sobre tratamentos, divulgou estudos que indicam que o medicamento não supera o placebo no tratamento de dores na região lombar.
Resultados também variam em outros cenários, mostrando efeitos positivos em alguns casos, como enxaquecas agudas e dores pós-parto e pós-cirúrgicas, mas apenas efeitos “pequenos” ou inconclusivos em outras situações, como artrite no joelho ou no quadril.
Embora o paracetamol seja amplamente disponível e barato, os riscos de overdose são alarmantes. A dose recomendada para adultos é limitada a 4 gramas por dia, mas muitos medicamentos combinados podem resultar em inadvertida ultrapassagem desse limite.
Foto: george martin studio/ Shutterstock
O fígado é o órgão afetado pela toxicidade da quinoneína, uma substância tóxica gerada pelo metabolismo do paracetamol em excesso. Isso pode levar a falência hepática aguda e está associado a um aumento significativo na mortalidade.
Diante do cenário de incertezas sobre a eficácia e dos riscos de overdose, é essencial que as pessoas busquem a avaliação de um profissional de saúde antes de utilizar o paracetamol, especialmente se os sintomas persistirem ou piorarem após dois ou três dias de uso.
Enquanto a indústria farmacêutica e associações de saúde se pronunciam sobre a segurança e o uso responsável de medicamentos isentos de prescrição, o mistério em torno do paracetamol persiste, e novos estudos continuam a revelar facetas surpreendentes desse popular medicamento.
Por ora, a orientação é clara: conhecimento, cautela e responsabilidade são fundamentais ao lidar com o paracetamol, uma das medicações mais acessíveis do mundo, mas também uma das mais mal compreendidas.
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