Tá sem corrida? Você pode ser vítima do "banimento velado" dos apps de motoristas

A regulamentação do trabalho dos motoristas de aplicativo está sendo amplamente discutida, e até mesmo um PL (Projeto de Lei) já foi enviado pelo governo ao Congresso para tentar oferecer algumas proteções e garantias à categoria.

Em meio aos debates, um assunto voltou à tona nas redes sociais e vem causando polêmicas. Estamos falando do banimento velado feito por algumas plataformas famosas no mercado.

Segundo alguns colaboradores, as empresas estão supostamente punindo condutores sem razões justificáveis, demorando para enviar corridas ou enviando um número insuficiente ao longo do dia de trabalho.

Esse tipo de bloqueio nem mesmo seria notificado ao trabalhador parceiro, que ficaria parado com o sistema aberto, aguardando novas viagens. Essa situação foi identificada tanto na Uber quanto na 99.

Na internet, há até mesmo um vídeo no Instagram em que um condutor ensina uma forma de se livrar disto. Ele mostra o passo a passo que faz as corridas retornarem quase imediatamente. Vejamos:

1. Selecione a tecla de saída de serviço,
2. Volte a ficar disponível,
3. Acesse a tela de seleção de veículos,
4. Escolha outro carro e clique novamente no automóvel que está dirigindo.

Um problema bastante antigo

A AMASP (Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo) alega que esse banimento velado realmente existe há algum tempo e, segundo Eduardo Lima, o presidente da instituição, aqueles que escolhem muito os trajetos são os mais afetados.

Os motoristas que já conhecem a punição selecionam menos para evitar que o algoritmo entenda que eles estão desinteressados, assim privando-os de novas oportunidades de corridas.

“A realidade é que o motorista acaba tendo que se virar para que não fique no prejuízo, e sair aceitando corridas indiscriminadamente é justamente o que o leva a perder dinheiro. Ocorre que as taxas de repasse dos valores das corridas ao motorista estão extremamente defasadas, já que foram pouco reajustadas, mesmo após várias reivindicações ao longo de vários anos. Isso leva à necessidade de o motorista calcular sempre. Verá o valor da corrida, o quanto terá de rodar e, aí sim, vê se compensa. Há casos em que, infelizmente, o que se ganha não é o suficiente nem para cobrir os gastos com combustíveis”, diz o presidente.

Frequentemente, o representante afirma que há um problema com o preço dos percursos em situações de tarifa dinâmica. Segundo ele, a adição do valor padrão à cifra adicional da referida tabela não procede em alguns casos.

“O pior é que quase não há tempo hábil para o motorista fazer os cálculos e ver se a matemática bate, pois a tela dispõe as informações durante apenas 5 ou 6 segundos. Isso deveria ser tarefa única e exclusiva das plataformas. De todas as vezes que vi os motoristas fazerem suas reclamações, em mais ou menos 90% dos casos tiveram os seus valores ressarcidos”, completa.

Diante de tamanha repercussão, as corporações cujos nomes foram envolvidos nas acusações se pronunciaram e deram suas justificativas sobre esse tema tão delicado.

“A plataforma não penaliza motoristas por recusar corridas”. Porém, a empresa reconhece que a “Taxa de Aceitação” é um “indicador crítico do engajamento com a plataforma e do seu comprometimento em atender as demandas dos usuários”, disse a 99 ao UOL Carros.

“O nível de solicitações que um motorista parceiro recebe usando o aplicativo da Uber está relacionado majoritariamente à demanda de usuários por viagens no horário e região em que o motorista se encontra”, garantiu a Uber.

“Além disso, o aplicativo oferece uma série de configurações para que os parceiros possam filtrar o recebimento de solicitações de acordo com suas preferências pessoais, incluindo quais modalidades de viagem quer atender, a definição de um local de destino desejado, qual método de pagamento aceita, qual a avaliação mínima dos usuários que aceita, etc. Por consequência, quanto mais preferências selecionadas no aplicativo, menos solicitações o motorista vai receber”, completou.