Perfis
Carlos Alberto Sicupira: uma trajetória de sucesso
O bilionário aposta na simplicidade e capacidade de gerenciar para acumular fortuna.
Responsável pela entrada na Endeavor no Brasil, pelo reposicionamento das Lojas Americanas e pela criação da Ambev, maior fusão do ramo que o mercado nacional já viu, Carlos Alberto Sicupira é brasileiro e possui uma fortuna estimada em US$ 8,7 bilhões.
Com isso, ele ocupa o quinto lugar do ranking da revista Forbes 2021, entre os brasileiros mais ricos do mundo.
O carioca, nascido em 1º de maio de 1948, é conhecido pelo perfil “durão” de gerenciar. O que não quer dizer que ele seja sisudo ou antipático. Ele é apenas o mais gerentão entre os três sócios que compõem, atualmente, o 3G Capital, que, por sua vez, é um fundo que busca investir em empresas de fora do país.
O grupo , composto por Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann expandiu ainda mais suas tratativas no segmento cervejeiro, quando realizaram a fusão com a Interbrew e a Anheuser-Busch, em 2004 e 2008, respectivamente, o que tornou o trio dono da maior cervejaria do mundo.
Mas o investimento não parou por aí. Com a 3G, em 2010, eles passaram a controlar a rede Burger King. Além disso, compraram o Restaurant Brands International, trazendo para o fundo as redes de cafeteria Tim Hortons e de lanchonetes Popeyes.
A compra da fabricante de alimentos Heinz
O passo seguinte foi comprar a fabricante de alimentos Heinz e incorporar outras alimentícias. Isto é, a Kraft, na tentativa de repetir o sucesso da fusão entre as cervejarias, e criar uma gigante do ramo.
Mas, assim como em qualquer outro setor, nem sempre a aposta apresenta resultados satisfatórios. E essa aquisição foi logo desfeita, após uma série de processos impetrados por acionistas.
Isso porque, ao contrário de experiências anteriores, a economia, defendida por Beto, de cortar custos antes mesmo que eles cresçam, não funcionou. E então, a empresa perdeu dinheiro, segundo especialistas, por falta de investimento em inovação.
Ao final, a 3G vendeu parte da sua participação, ficando apenas com 10% dos papéis da Heinz Kraft. O que não reduziu em nada a fortuna de Alberto, que segue fazendo transações e investindo em empreendimentos inovadores.
Sim, porque, apesar de “gerentão”, o empresário possui características importantes. Ele costuma buscar projetos e pessoas com ideias inovadoras. Tanto que seleciona talentos jovens e acompanha de perto o dia a dia das suas empresas. É o caso, por exemplo, das Lojas Americanas, que conseguiram uma recuperação considerável depois da intervenção do seu grupo e do seu trabalho junto aos funcionários.
O fundo 3G Capital é fruto dessa trajetória de experiências que são constituídas, na maior parte das vezes, por bons negócios, mas também por operações refeitas por falta de lucros suficientes para o crescimento.
Ainda assim, o Fundo tem como diferencial a operacionalização e controle das atividades estratégicas, além do investimento financeiro, e essa habilidade tem a frente a capacidade gerencial de Carlos Alberto Sicupira.
Segundo os sócios, ele realizou seu desejo de se tornar militar na função que exerce no trio societário, ou mesmo nos desafios que assume, o de comandar.
Trajetória de busca
De todas histórias de bilionários que conhecemos, essa pode ser a mais inspiradora para jovens que não são oriundos de famílias abastadas. Isso porque, a trajetória de vida desse empresário parte de um lugar comum a muitos brasileiros que sonham em ganhar dinheiro empreendendo: sem muitos recursos financeiros, mas com muita disposição e ousadia.
Carlos Alberto Sicupira vem de uma família de classe média, mantida pelo pai, funcionário público do Banco do Brasil e do Banco Central, sua mãe era dona de casa. O jovem começou a trabalhar ainda aos 17 anos em uma revendedora de carros usados, logo depois vendeu calças importadas.
Mesmo com a pouca idade, Sicupira já vislumbrava empreender, tanto que comprou uma distribuidora de valores. A faculdade veio depois com a entrada no curso de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), quando Alberto resolveu seguir os passos do pai e entrar para o serviço público.
Talvez esse tenha sido o atalho necessário para Alberto, ou Beto, como é identificado por amigos mais próximos, seguir o caminho do pai. O futuro empresário, então, resolveu se enveredar pelo funcionalismo público. E desse modo, prestou serviço para o Departamento Nacional de Estradas de Ferro, para o Porto do Rio de Janeiro. Bem como, para o Serviço Federal de Processamento de Dados.
Parecia que tudo estava encaminhado, e o resultado seria mais um funcionário público com perfil inovador, mas essa escolha foi logo deixada de lado e, aos 20 anos, Sicupira voltou ao mercado de investimentos, entrando como sócio em uma nova distribuidora de valores.
Banco Garantia
Nessa época, a paixão pela pesca, que já tinha estreitado laços com amigos, o levou ao que seria a oportunidade para deslanchar como empresário. A proposta de Lemann da sua participação do banco Garantia.
Depois de quatro anos analisando a proposta, já com experiência de trabalho no Marine Midland, em Londres, em 1973, o bilionário aceitou a oportunidade, sem nem saber qual seria sua função na empresa.
Foi nessa passagem pelo Garantia que o trio se fortaleceu e segue junto até os dias atuais. Mesmo com o Banco rendendo muito lucro, Beto e seus sócios queriam ir além, e em 1982, essa oportunidade apareceu.
As lojas Americanas viviam um declínio e, mesmo depois de estrearem na Bolsa de Valores, não indicavam sinais de recuperação.
Lojas Americanas: a virada
A aquisição foi feita por um valor muito abaixo do real: US$ 30 milhões – o valor total apenas dos imóveis que a Companhia possuía, girava em torno de US$ 100 milhões. Assim, a responsabilidade de reerguer a empresa parou nas mãos de Carlos Alberto Sicupira.
Com carta branca, aquela foi a primeira vez que o mercado conhecia o modus operandi do empresário. Para ele, o corte é como a unha, se não for aparada a medida que cresce, sai do controle.
A partir dessa filosofia, nos primeiros meses, as demissões chegaram a 6.500 funcionários das Lojas Americanas, entre eles executivos do alto escalão da Companhia, cortou programas de remuneração para estes, e resolveu buscar talentos na própria empresa, com o objetivo de potencializar essas competências.
O empresário dava expediente no escritório e, com o suporte de um auditor e um executivo, assumiu o perfil do militar que sempre teve vontade de ser. Aos que discordaram do corte no programa de bônus que gratificava executivos por metas facilmente alcançáveis, a demissão veio em massa. Ou seja, de uma única vez, ele demitiu 32 colaboradores.
As críticas vieram de toda a parte, mas as medidas surtiram efeito e, seis meses após a compra, um quinto das Americanas já estavam valendo US$ 20 milhões, valor pago pelo banco Garantia por 70% da companhia.
O trio: Lemann, Telles e Sicupira
O sucesso foi tanto que alcançou o fundador da Walmart, Sam Walton. O convite foi feito e, meses depois, o trio Lemann, Telles e Sicupira embarcava para a América com o objetivo de efetivar mais uma operação de grande soma.
A experiência levou Beto a adotar novas estratégias, junto a funcionários. Além da consciência de que gastar sola de sapato é o segredo do alto lucro. E assim, o empresário passou a visitar lojas com mais frequência e a construir uma relação mais próxima dos funcionários. Inclusive, se comprometendo a cumprir metas.
Mas a ideia de controlar a Walmart não funcionou e o negócio com Sam Walton não se concretizou da forma esperada. O desafio então se tornou outro: criar uma nova ideia para buscar outros investimentos.
Por isso, em 1993, Beto passou sua função nas Lojas Americanas para um executivo de sua confiança e seguiu para a criação do primeiro fundo de investimento do grupo.
Família e perfil de Carlos Alberto Sicupira
Casado com Cecília de Paula Machado, Sicupira tem três filhas: Cecília, Helena e Heloísa. Mas ele não mistura relações familiares com negócios. A regra é: no máximo os herdeiros podem participar do programa de trainee sem passar por seleção. Depois o caminho deve ser individual e sem intervenções, muito menos sem cargos direcionados nas empresas do grupo.
Esse perfil condiz com a discrição e aversão a holofotes, dos quais os sócios fogem. As entrevistas são raras e as aparições, exceção. Há quem diga que Alberto não aparece nem nas festas da própria firma.
Por outro lado, Sicupira mantém a simplicidade e não se aproveita da sua fortuna para dar carteirada. Segue sendo discreto.
Mas, no mercado de ações, o bilionário é conhecido como “o homem dos novos negócios”. Um adjetivo natural que vem com sua capacidade de vislumbrar movimentos inovadores, empreendedores potentes e transações bilionárias. Uma história curiosa foi a vontade de encontrar entre os funcionários das Lojas Americanas talentos escondidos.
Aliado a essa característica está a competência técnica de um administrador de empresas que desde muito jovem buscava formas inovadoras e ousadas de realizar investimentos. Ele possui olhar no futuro, e coragem de apostar em talentos e no empreendedorismo.
A filantropia é outra característica que coaduna com o perfil de Sicupira. Ele investe também em empresas desse ramo, como a Dr. Consulta, que presta serviços médicos gratuitamente para a população vulnerável, e a Startup Hypercubes que realiza um trabalho geológico fundamental para a exploração sustentável do solo.
No Capitalist você encontra esses, bem como outros perfis de mega investidores nacionais e internacionais que construíram suas carreiras e possuem histórias inspiradoras e de sucesso. Então, se gostou deste artigo e deseja acompanhar mais exemplos como o de Carlos Alberto Sicupira, leia os perfis especiais que o Capitalist preparou para você.
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