Investimentos
Conheça os setores mais rentáveis da Bolsa com a tendência de alta dos juros
Segundo especialistas, a tendência de alta influencia o preço e o rendimento dos ativos
A tendência de alta dos juros mexe na rentabilidade dos investimentos, inclusive os da Bolsa de Valores. A Selic até pouco tempo estava em 2% ao ano foi elevada para 2,75%.
Gestor de renda variável do Andbank Brasil, Fernando Barbará disse que a inflação fez com que o Banco Central antecipasse essa agenda, e agora, espera-se um juro de 5% a 6% nos próximos 12, 18 meses. Trata-se de um nível ainda baixo, se verificado o cumprimento da agenda de reformas e a manutenção da responsabilidade fiscal.
Para ele, o mercado entendeu e esperava a decisão. A partir disso, há essencialmente dois caminhos possíveis: a intervenção se mostra suficiente e a Selic se estabiliza; ou algum dos fatores de risco, como a inflação e saúde fiscal do país, continuam pressionando a taxa para cima.
“Entendemos que a inflação está ancorada, mas isso pode mudar se os problemas fiscais se agravarem. O dólar sobe por conta do risco, isso gera inflação, e juro precisa acompanhar o movimento”, sentencia Barbará.
De qualquer forma, a tendência de alta influencia –com possíveis variações mediante o agravamento ou não do cenário– o ambiente de negócios, o que pode ser sentido desde a renda fixa até o mercado de ações.
Bolsa
Analista de empresas na SOMMA Investimentos, na B3 o momento tende a impor dificuldades a qualquer empresa que possui altos níveis de alavancagem (dívida) e setores como um todo. Há também as exceções, que podem se dar neste momento.
Já a analista de investimentos da Toro, Paloma Brum destacou que após terem sido impactados pela redução de spreads nos últimos trimestres, uma vez que os juros baixos propiciaram maior oferta de crédito e mais competitividade para o setor, os bancos podem se beneficiar de um ciclo de alta da Selic.
“Isto tende a acontecer porque agora o movimento esperado diante de juros maiores é o contrário: crescerá também o nível de risco na concessão de empréstimos e financiamentos, o que implica naturalmente em um prêmio maior para remunerar as instituições credoras.”
Segmentos
Para Brum, a alta dos juros causa uma atividade econômica menos aquecida, com empresas investindo e produzindo menos, e famílias diminuindo o consumo. Neste cenário, empresas ligadas ao setor exportador tendem a se mostrar mais resilientes do que aquelas companhias mais dependentes do mercado doméstico.
Ou seja, empresas de proteína animal, papel e celulose, commodities como o petróleo e o minério de ferro podem seguir avançando.
As empresas do setor imobiliário tendem a ser impactadas, segundo Brum, pois os financiamentos imobiliários consistem em uma das linhas de crédito que é ajustada mais rapidamente diante de aumentos na Selic.
Dessa forma, a alta pode reduzir o apetite para a tomada de novos financiamentos, assim como aumentar o grau de inadimplência entre aqueles que já têm contratos.
Nada que se compare com os números do passado, é verdade, mas é um ponto de atenção. “O mercado imobiliário vem de um ano histórico muito forte, com as taxas de juros em patamares historicamente baixos. Mas, à medida que os juros vão subindo, o preço vai aumentando pro consumidor, que pode acabar comprando menos”, diz Conrado, da SOMMA.
Varejo
Já as empresas varejistas também podem sofrer com juros mais elevados, pois estes se tornam um incentivo para a realocação de renda das famílias, que optam por reduzir o consumo para aumentar as aplicações financeiras, que passam a remunerar mais.
“Além disso, juros mais altos implicam em aumento das despesas dos indivíduos com crédito e, portanto, aumentam o seu endividamento e reduzem a renda disponível para realizar outros gastos”, afirma Brum.
“Dessa forma, a alta na Selic pode prejudicar o volume de vendas e as receitas de companhias do varejo, como redes de supermercados, vestuário, calçados e bens de consumo duráveis (como eletrodomésticos e automóveis).”
Brum diz que a alta da Selic pode impactar a precificação das ações de empresas de tecnologia, inclusive aquelas de e-commerce, cujo crescimento acelerado depende de financiamentos que, por sua vez, tendem a ficar mais caros com os juros mais elevados.
Educação
Em conjunto, o cenário de crise e a alta da Selic tendem a propiciar menos investimentos, uma taxa de desemprego mais elevada e a consequente queda da renda disponível dos brasileiros. Com isso, o consumo passa a ser mais focado em itens essenciais.
“Neste cenário, o orçamento das famílias para educação, principalmente de grau superior, deve ser prejudicado, afetando as empresas do setor educacional, que podem sofrer com o aumento da evasão e da taxa de inadimplência entre os atuais matriculados, além da queda na captação de novos alunos”, explica Brum.
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