Palavrões na moda: como isso afeta nossas crianças?

A “trend do palavrão” tomou conta das redes sociais, chamando atenção não só pelo humor mas também pelas preocupações sobre o impacto dessa moda nas crianças.

Imagine, por um momento, ser incentivado a soltar todos os palavrões que conhece em frente a um espelho. Para adultos, isso pode parecer um desabafo, mas e quando são crianças fazendo isso, incentivadas por familiares ou amigos próximos?

Os riscos por trás da risada

A educadora parental Gabi Moutinho coloca em poucas palavras a preocupação central: “Há uma violação”. Ela aponta para o risco de quebrar a confiança entre a criança e quem a incentiva a participar dessa trend.

Quando a criança percebe que foi exposta, aquele lugar que ela tinha como um local seguro é quebrado. E os pais são as principais pessoas de referência. “Bom, ‘as pessoas em quem eu deveria confiar, não posso confiar’. Logo, ela fica sensível”, explica Gabi.

A psicóloga Aline Silva acrescenta que essa moda pode gerar “confusão de informações” para a criança, que não entende a incoerência entre o que é dito para não fazer e o que é incentivado naquele momento.

Se você diz que não pode e depois pede para ela ter esse ato, expondo-a dessa forma, eu não sei até que ponto isso cria confusão. Isso, inclusive, prejudica a comunicação dos pais com ela e a confiança que ela deposita nos pais, destaca Aline.

A exposição negativa e seus efeitos

A exposição nas redes sociais, especialmente em tendências polêmicas como essa, pode levar a criança a enfrentar opiniões negativas e até agressões verbais.

Quando a gente faz uma tendência que divide opiniões, que é muito polêmica, que muitas pessoas vão olhar e vão achar muito negativo, a tendência das crianças serem expostas negativamente a opiniões negativas, inclusive agressões verbais, é maior”, diz Aline.

Mas é possível expor-se de forma positiva nas redes? Gabi Moutinho e Aline Silva têm visões distintas sobre o assunto. Aline acredita que qualquer exposição, especialmente de crianças menores, não é ideal devido à falta de discernimento da criança sobre a extensão da exposição. “Ela ainda não tem noção do quanto aquilo vai expô-la”, afirma Aline.

Por outro lado, Gabi sugere que pode haver um equilíbrio, no qual a criança se sente confortável e feliz com a exposição. “Existe uma exposição em que a criança está confortável, ela está feliz e participa daquele momento, daquela ação. Então, essa imagem, a probabilidade de a criança sofrer algum dano é muito menor”, pondera Gabi.