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Economia

Planos para feiras virtuais do agronegócio do Brasil são adiantados em meio à pandemia

Organizadores de grandes feiras agropecuárias querem levar os encontros do campo para a internet.

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Organizadores de grandes feiras agropecuárias no Brasil parecem estar apostando nos encontros na internet com uma saída para evitar que 2020 se torne um ano perdido, pouco mais de seis meses depois que a pandemia começou a impedir a realização desse tipo de evento.

Ao lado desse fato, houve a aceleração do processo de digitalização em meio às medidas de isolamento. A princípio em discussões entre os responsáveis pelas feiras, o modelo parece ter vindo para ficar, já que os primeiros eventos virtuais foram bem-sucedidos.

A feira online promovida pela Coopercitrus aumentou o faturamento em mais de 30% frente o evento presencial de 2019, um movimento em linha com o comércio eletrônico, que tem expandido na faixa de dois dígitos de forma geral durante a pandemia.

A Agrishow, uma das maiores feiras do setor na América Latina, que acontece anualmente em junho Ribeirão Preto (SP),  havia sido adiada para o próximo ano, mas encontrou no mundo virtual uma saída para ao menos reduzir as perdas com uma não realização em 2020.

Em setembro, a feira promoveu a Agrishow Experience, evento de cinco dias com uma série de entrevistas, webinars e conteúdos para o agronegócio, em uma espécie de “rede social” que abordou desde insumos e máquinas, dois clássicos das feiras físicas, até temas de tecnologia e inovação.

Embora não tenha sido desenhada para absorver os tradicionais negócios do evento físico, que movimentou quase 3 bilhões de reais em 2019, a Informa, empresa que organiza a Agrishow, acredita que o contato entre os participantes tenha contribuído para negociações externas à plataforma digital, e admite que no futuro o escopo na rede pode ser ampliado.

“Atualmente a plataforma não possui a funcionalidade transacional… (Mas) o comportamento digital das pessoas tem mudado muito atualmente e amanhã isso pode fazer mais sentido e, assim, termos essa funcionalidade inserida à plataforma”, respondeu em nota a Informa.

A empresa disse acreditar que os ambientes físico e virtual não são excludentes, mas sim complementares. Segundo ela, para um evento com objetivos diferentes da feira tradicional, a Agrishow Experience teve resultado expressivo e repercussão positiva.

Mas outros integrantes do setor optaram pela realização 100% online da própria feira virtual, mantendo as metas de realização de negócios e relacionamento. A cooperativa Coopercitrus é um exemplo, já que criou um ambiente virtual reproduzindo em 3D e 360º a versão física da Coopercitrus Expo e migrou todo o evento para a plataforma digital, permitindo que o visitante “caminhasse” pelos estandes e realizasse transações pela internet.

Realizada no final de julho, a feira virtual surpreendeu positivamente, com negociações que superaram a casa de 1,1 bilhão de reais, frente a previsão da cooperativa de movimentar 800 milhões de reais em negócios.

“Foi um evento que conseguimos colocar dentro dele tudo o que está ligado à cadeia de produção agropecuária… É óbvio que o que o pessoal sempre espera de uma feira é ter negócios, e a gente conseguiu ter 15% a mais de volume de negócios do que tinha em uma feira física”, comemorou Fernando Degobbi, CEO da Coopercitrus.

Cerca de 100 mil pessoas se cadastraram no site e prestigiaram o evento, incluindo produtores distantes, que possivelmente não visitariam a feira física, disse Degobbi.

“Desde de aquela pessoa que está no sítio e colocou internet, aquele que está na loja, até um cooperado que mora em Londres, que tem café aqui em Monte Santo de Minas (MG). Foi extremamente abrangente e democrático”, acrescentou.

Os líderes disparados em valores negociados no novo ambiente da Coopercitrus Expo foram os segmentos de fertilizantes e defensivos agrícolas, com mais de 700 milhões de reais. Contudo, o Espaço dos Especialistas, que ofereceu plantões focados em temas como agricultura de precisão e tecnologia, foi área mais visitada do evento.

Segundo Degobbi, isso deu à cooperativa a noção de que o produtor tem uma alta demanda para entender como as novas tecnologias que avançam pelo agronegócio podem otimizar o processo de produção.

Nesse cenário, a entidade já prepara um novo evento totalmente virtual para o final de outubro, a Semana de Tecnologia e Inovação da cooperativa, que ocorrerá entre 26 e 30 de outubro.

Feiras regionais

Feiras organizadas com apoio de governos estaduais e com foco mais regionalizado também apostam na digitalização. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a Expointer Digital 2020, que teve sua edição física cancelada no início de julho, foi encerrada no último domingo.

Em comunicado, os promotores da feira disseram que o evento “marcou história” e terminou “com legado para próximas edições”. Algumas atividades foram presenciais sem participação do público foram transmitidas pela internet, a feira registrou mais de 70 mil acessos à sua plataforma depois de adotar esse formato híbrido.

“É uma certeza que vamos manter este formato híbrido para o ano que vem… Teremos uma Expointer em dobro (no próximo ano, com os formatos físico e digital)”, escreveu em nota Covatti Filho, secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul.

Mais ao norte, um dos pioneiros do país no negócio das feiras digitais foi o Estado de Tocantins, que decidiu utilizar a plataforma online para promover, ainda em maio, a Agrotins 2020, “no momento de um marasmo que a economia deu”, segundo autoridades locais.

O volume de negócios, de mais de 200 milhões de reais, ficou significativamente abaixo dos cerca de 2 bilhões de reais movimentados no evento físico do ano anterior, mas diante da situação econômica à época e da novidade representada pela feira online, o Estado considera que as expectativas foram cumpridas.

O secretário de Agricultura do Estado, Thiago Dourado disse à Reuter que essa foi uma primeira tentativa. “Ele foi a primeira experiência, o primeiro resultado… Tivemos muito aprendizado. Orientamos várias outras feiras no Brasil inteiro, que começaram a buscar a Agrotins para saber como realizamos essa feira, os erros e acertos”.

“Os produtores e as empresas querem que a Agrotins continue com a plataforma digital, mesmo que a gente volte para a plataforma física, então devemos sempre trabalhar com os dois canais institucionais sendo moldados, aperfeiçoando a plataforma digital”, acrescentou Dourado.

Modelo deve permanecer

A Agrishow e Coopercitrus ilustraram que a pandemia acelerou todos os planos de utilização do ambiente virtual e que, coincidentemente, o mundo online deve permanecer no pós-Covid.

Segundo a organizadora da Agrishow, a Informa, a realização de eventos híbridos (que utilizam meios físicos e digitais) já estava em discussão, mas “é claro que a pandemia acelerou esses planos”.

“Mesmo quando os eventos físicos retornarem, os virtuais complementarão a agenda, conectando o fabricante e produtor rural o ano todo…”, disse a empresa.

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