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Quando a farmácia sabe mais de você do que imagina: o rastro dos seus dados
O número de CPF associado aos produtos que você compra nas farmácias pode gerar uma série de conclusões sobre os seus hábitos.
As farmácias sabem mais sobre você do que você imagina. A confirmação disso está nos dados que elas recolhem dos clientes, durante as vendas online ou presenciais, e o que fazem com eles a partir disso.
A startup RD Ads, por exemplo, utiliza dados coletados pela rede de farmácias RaiaDrogasil para direcionar com mais eficácia os anúncios publicitários aos clientes. Estima-se que cerca de 48 milhões de pessoas têm informações utilizadas pela empresa, em um processo que visa, unicamente, o lucro.
Os dados colhidos pelas farmácias, geralmente, conseguem informar idade, gênero, produtos comprados, perfil de gastos e até o dia da semana preferido do cliente para fazer compras.
Ao filtrar todas essas informações, é possível identificar perfis e, com isso, estabelecer formas de impactar o comprador com o direcionamento de conteúdos.
Cesta de compras
O sistema da RD Ads utiliza, por exemplo, dados da cesta de compras dos clientes, que ficam armazenados no site da farmácia, para identificar pessoas que possuem problemas cardiovasculares, diabetes, colesterol e outras patologias. Ou seja: a produção de dados é constante e a todo momento.
Interessados nesse tanto de informação, os anunciantes contratam a RD Ads, determinam o público que eles desejam atingir com as propagandas, recebem os dados que precisam e fazem o anúncio. O processo termina com o redirecionamento do cliente ao site, às redes sociais ou ao YouTube da empresa.
Produtos para bebês
Um dos pontos que mais explica essa estratégia envolve produtos para bebês. A empresa tem o poder de identificar casais com filhos pequenos, de até dois anos, a partir das compras feitas: de fraldas, papinhas e outros itens relacionados.
Tendo isso em mãos, é possível focar os anúncios e obter resultados importantes. Em um experimento feito com esse público pela rede RaiaDrogasil, as vendas aumentaram 20%.
“Vai querer CPF na nota?”
Com base nos produtos comprados e graças à identificação gerada pelo fornecimento do CPF na hora de registrar a compra, as farmácias conseguem produzir dados impressionantes sobre os hábitos e condições dos clientes.
Elas são capazes, até mesmo, de identificar possíveis doenças, se já engravidou ou tem filhos, a frequência sexual e até se a pessoa tem caspa, frieira ou chulé. É muita informação!
A rede RaiaDrogasil alega que os clientes que informam o número do documento na hora da compra autorizam, de certa forma, o uso de suas informações. Apesar disso, fica a pergunta no ar: será que as pessoas sabem e têm consciência desse detalhamento todo?
No Brasil, estima-se que 97% dos clientes informam o CPF para ter algum desconto na farmácia. Essa prática tornou-se corriqueira e foi normalizada por aqui, mas se fosse adotada em outros países, como os Estados Unidos, por exemplo, não seria tão bem recebida e, logo, geraria estranheza.
O que diz a lei?
O uso desse tipo de informação dos clientes ainda é pouco regulado pela lei brasileira, pois falta detalhar mais. A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) considera informações de saúde “dados sensíveis” e, por isso, seria um segmento que necessita de maior cuidado e proteção.
De acordo com o texto, o compartilhamento de dados de clientes para obter vantagem econômica é algo passível de vedação e regulamentação. O trabalho de fiscalização, no entanto, ainda não é muito definido.
A RaiaDrogasil argumenta que os dados ficam anônimos antes de serem utilizados no direcionamento de anúncios, mas a coleta de milhões de CPFs segue a todo vapor nas farmácias.
Se você se sentir incomodado com isso, pode solicitar que os estabelecimentos apaguem todos os dados sobre você. Essa ação está prevista na LGPD.
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