Mercado de Trabalho
Sinônimo de resistência: negros(as) e o mercado de trabalho no Brasil
O Brasil possui raízes longas e intrínsecas no que diz respeito ao racismo estrutural. Entenda como o mercado enxerga a população negra. Leia mais!
O Brasil foi o último país da América Latina a abolir a escravidão, e isso ocorreu somente devido à pressão externa. Nesse sentido, o racismo no Brasil é conformado por mais de três séculos de escravidão e por teorias que fundamentam a explicação desse preconceito.
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Evidentemente, ao longo dos anos, com a ascensão de governos que visavam mitigar esse impacto geracional, investindo em políticas públicas como as de cotas na tentativa de igualar o processo social, os negros começaram a ter mais acesso à educação do que tinham outrora.
Porém, alguns dados demostram que mesmo estando dentro das universidades, os negros ainda são minoria em cargos de liderança em empresas no Brasil.
De acordo com o Instituto iDados, em 2020, 37,9% dos homens e 33,2% das mulheres negras com diploma de ensino superior trabalham em cargos que não exigem o diploma, o que reforça o argumento de que a sociedade brasileira possui o racismo em sua estrutura.
Racismo estrutural
Um exemplo do racismo estrutural é a história de Felipe Bellido. Ele é formado em ciência política e está finalizando o doutorado na área de ciências sociais e políticas públicas, tendo desenvolvido parte dos estudos na Faculdade de Illinois, nos Estados Unidos.
Porém, mesmo com todo seu currículo e qualificação, o jovem não consegue encontrar trabalho no mercado que seja compatível com sua formação.
Esse cenário, então, demonstra como, na maioria das vezes, essa população precisa submeter-se a empregos abaixo de sua qualificação.
“Envio currículos para as empresas, mas não está fácil, pelo menos não em um lugar que nos garanta uma vida digna para a família, minha mulher e filho. Tenho toda essa responsabilidade de colaborar para o sustento deles”, relata o jovem.
Felipe diz que os feedbacks que recebe das empresas são referentes a aparência, falta de formação específica em alguma língua estrangeira. No entanto, ele faz a observação de que pessoas brancas menos qualificadas do que ele conseguem os trabalhos.
Isso, a priori, é facilmente comprovável, é só analisar o ambiente corporativo e perceber os corpos que ocupam aqueles espaços.
“É um peso psicológico que a gente carrega, o fato de a gente ter que provar o tempo todo que a gente é bom e que merece estar ali, sendo que tem pessoas com qualificações não tão boas quanto a nossa por ‘n’ motivos, inclusive o racismo, que acessam muito mais facilmente esses espaços”, relata Felipe.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pessoas negras ocupam um terço dos cargos de diretoria. Uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva demostrou que homens brancos que cursaram graduação recebem, em média, R$ 7.286, enquanto homens negros têm uma média salarial de R$ 4.990, uma diferença de 46%. Essa discrepância aumenta quando comparamos às mulheres negras, com uma média de R$ 3.067, menos da metade do que ganha um profissional branco.
De acordo com o professor de economia do Centro Universitário UNA, Mussa Vieira, o problema dessa disparidade está vinculado à falta de política públicas e afirmativas. “A sociedade brasileira ainda trabalha as políticas afirmativas como um favor, mas não são. Políticas afirmativas existem para corrigir um erro do passado, corrigir as desigualdades do presente e melhorar a projeção para o futuro”, destaca. Para o professor, “quando a empresa começa a juntar essas pessoas, cria um choque cultural benéfico, e quem sai ganhando é toda a comunidade”.
Evidentemente, esse mundo ideal não irá se concretizar de imediato e, enquanto isso, a pele negra continuará, assim como fez em toda a sua trajetória histórica, sendo resistência.
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