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Uber e 99: modelo de negócios dos aplicativos de transporte ainda é viável?

Esforço de reduzir margens para continuar atraindo motoristas e passageiros pode gerar resultados após a crise.

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O cenário dos aplicativos de transporte, como Uber e 9, não tem sido dos melhores nos últimos meses. Enquanto o passageiro sofre para conseguir uma corrida, o motorista não consegue lucrar com as viagens especialmente por conta da alta dos combustíveis no país.

As empresas anunciaram uma possível solução para o problema: reduzir sua margem entre 10% e 35%, repassando mais dinheiro ao motorista, mas sem cobrar mais caro do usuário.

Embora a notícia seja boa para os dois lados, ela gera preocupação sobre a saúde financeira dessas empresas. Será que esses aplicativos conseguirão ter lucro e repassar boas margens a seus motoristas? Esse modelo de negócios ainda é viável?

Liquidez preocupa

Segundo as empresas, as mudanças foram adotados em favor da liquidez. Para o cofundador da empresa Mobees, Fábio Barcellos, “99 e Uber são marketplaces complexos, porque sua liquidez deve acontecer em uma grande escala e em diversas regiões”.

“O serviço ficou ruim para o usuário pela indisponibilidade de profissionais, e insatisfação não é um bom para negócios que dependem de liquidez. Existe um interesse em reequilibrar demanda e oferta do marketplace, ainda que temporariamente e por conta de uma conjuntura ruim”, completou.

De acordo com o analista internacional na XP Investimentos, Vinicius Araujo, afirma que essa não é a primeira vez que a Uber aumenta seus repasses para garantir liquidez. Até o segundo trimestre deste ano, quando a demanda começou a se recuperar nos Estados Unidos, a companhia abaixou suas comissões de 25,8% para 18,7% no país.

No Brasil, a falta de motoristas está relacionada ao aumento no preço dos combustíveis. Segundo a Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp), esse reajuste adotado pelos aplicativos não melhora a situação dos motoristas, que já lidam com um aumento de 51% nos combustíveis.

“Estamos recebendo várias reclamações dos motoristas de que não estão vendo esse aumento no seu dia a dia. Foi dado o reajuste, mas, por outro lado, foi diminuída a tarifa dinâmica. (…) E não são todas as viagens que têm esse acréscimo. Para o motorista obtê-la, necessita de vários critérios, como dia, local, hora, data e demanda”, explicou.

Ainda é possível lucrar?

A pandemia atrapalhou Uber e 99 em um momento em que ambas pareciam ter se consolidado no mercado. Somando a chance de não terem liquidez suficiente com as novas margens de repasse, é difícil esperar lucro no curto prazo.

“Podemos comentar que, desde novembro de 2020, a 99 já observa um retorno de 100% no volume de viagens. Em 2021, esse volume continua crescendo justamente pela volta ao trabalho presencial e a reabertura de vários setores”, disse a 99, que não divulga de forma consistente seu balanço financeiro.

“A nossa estratégia de crescimento para este ano se mantém inalterada e está centrada na eficiência, capilaridade e sustentabilidade do negócio, bem como no impacto positivo na sociedade”, afirmou a empresa, que em 2020 investiu mais de R$ 150 milhões no em novos produtos e recursos.

Já a Uber, empresa listada em Nova York, registrou receita de US$ 3,9 bilhões no segundo trimestre de 2021, aumento de 105% em relação ao mesmo período de 2020. O plano agora é atingir um Ebitda positivo até o fim deste ano, já que o indicador ficou negativo em US$ 509 milhões entre abril e junho de 2021.

“99 e Uber se estabeleceram e os números melhoram mesmo em um momento bem desafiador. Essas empresas estão resolvendo seu dilema de perder dinheiro para criar hábitos. Agora que hábitos já se criaram e que está provado que o mercado é atraente e viável para escala, não dá para continuar no prejuízo. São empresas com acesso à capital, então dificilmente existirá um ponto em que o negócio se torne inviável. Mas todo mundo que está no negócio quer ver ele ficar no positivo. Até que os números venham consistentemente azuis, o debate sobre lucratividade continua”, avaliou Barcellos, da Mobees.

Jornalista graduada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), integra o time VS3 Digital desde 2016. Apaixonada por redação jornalística, também atuou em projetos audiovisuais durante seu intercâmbio no Instituto Politécnico do Porto (IPP).

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