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Choque com desastre da Vale alavanca fundos ESG no Brasil
Vendo que questões de ESG tinham grandes implicações financeiras, muitos investidores locais começaram a apostar neles.
A Vale conseguiu manter uma forte geração de caixa, o que fez com que muitos investidores brasileiros decidissem perdoar a empresa meses após o desastre de Brumadinho em 2019, retomando suas compras de ações da companhia após forte onda de venda.
Contudo, muitos não queria agir com se nada tivesse acontecido. Antes, decisões que considerassem critérios ambientais, sociais e de governança eram bastante confundidas como ideológicas, mas o segundo desastre de barragem da empresa em três anos foi educativo para o mercado de investimentos éticos no Brasil.
“Nosso fundo sofreu muito. A Vale era de longe nossa principal posição”, disse Marcio Correia, gerente de ações da JGP do Rio de Janeiro. Acompanhando outros gestores de fundos, Correia enfrentou desafios quando as ações perderam um quarto do valor dias após o rompimento da barragem.
“Percebemos que estávamos desprezando os riscos associados com a mineração, a questão climática, e decidimos estudar isso a sério”, acrescentou.
A empresa de gerenciamento de ativos de 34 bilhões de reais co-fundada nos anos 1990 por André Jakurski e Paulo Guedes, atual ministro da Economia, decidiu então vender dois terços de sua ações da Vale.
Em agosto, a JGP estabeleceu seu primeiro fundo exclusivo guiado por critérios ambientais, sociais e de governança, os chamados ESG.
As verem que as questões de ESG tinham grandes implicações financeiras, outros investidores locais também começaram a apostar nesse movimento.
“O desastre da Vale foi um divisor de águas no Brasil”, afirmou Eduardo Dumans, sócio da empresa de gerenciamento de ativos Constellation.
Cerca de 20 fundos sustentáveis já haviam levantando cerca de um bilhão de reais até setembro deste ano, montante que representa o dobro de 18 meses atrás, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Frente à internacional, o Brasil ainda dá os primeiros passos. As três maiores gestoras de investimentos ESG cuidam de menos de 50 bilhões de reais, e duas delas têm fundos que não excluem indústrias poluentes, embora incluam dados ESG para decidir seus investimentos.
Mundialmente, os fundos que cumprem critérios ESG administravam 30 trilhões de dólares quando o desastre de Brumadinho ocorreu, de acordo com dados da Global Sustainable Investment Alliance.
“Se a Vale se comprometer com mudanças, será por causa dos investidores internacionais, não tanto por causa daqueles do Brasil”, previu Fabio Alperowitch, sócio fundador da Fama, gestora de 2,5 bilhões de reais.
Mas Alperowitch afirma que o ESG finalmente está compensando no Brasil.
“Vejo todo esse movimento com uma misto de amor e ódio. Falo sobre isso há três décadas, e ninguém dava a mínima. Agora entrou na moda”, disse.
Busca por segurança
Segundo a própria Vale, ela trabalhou para tentar reconquistar a confiança. “A segurança se tornou uma obsessão, e a empresa acredita que a integração de ESG em nossa rotina será essencial para a eliminação de risco da Vale”, afirmou a companhia.
A mineradora contingenciou 18,6 bilhões de reais para limpar e restaurar o meio ambiente e para apoiar as vítimas após a tragédia de 2019. Até o momento, ela desembolsou mais de 10 bilhões deste total, e seus esforços para lidar com as questões ESG ajudaram a persuadir a agência de avaliação de risco Moody’s a restaurar o grau de investimento da Vale, em 1º de outubro.
Mesmo em meio a esse cenário, a Vale tem o menor múltiplo de avaliação de empresas entre as grandes mineradoras do mundo comparando seu valor com o índice de lucro ante de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), medida usada para estabelecer o valor uma companhia.
O valor reduzido da Vale reflete em grande parte os questionamentos de investidores sobre sua capacidade de cumprir metas ESG sem comprometer a produção, acreditam o JGP e outros fundos brasileiros com enfoque ético.
Recuperar sua reputação é especialmente difícil porque o rompimento da barragem de Brumadinho em janeiro de 2019, que matou 270 pessoas, seguiu-se ao rompimento de outra barragem de uma joint venture da Vale em Mariana em novembro de 2015, pior desastre ambiental do Brasil que deixou 19 mortes.
Antes de agosto de 2021, quando completará dois anos da criação de seu fundo ESG exclusivo, a JGP descarta a compra de ações da Vale.
Questionada sobre segurança, a Vale disse que suas medidas incluem a redução do uso de barragens que armazenam resíduos de mineração líquidos e a preferência pelo empilhamento a seco, que é mais seguro.
A mineradora também disse, sem detalhar, que 20% das metas de compensação de longo prazo de seus administradores sêniores se baseará na performance em ESG.
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