Política
O que esperar da Petrobras com Lula? Mercado teme ingerência e corrupção
Medidas que alavancaram crescimento da empresa poderiam ser alvos de retrocesso. Uso social e redução de retorno são esperados
Uma declaração da presidente do PT e deputada federal pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, a respeito da Petrobras acendeu o alerta do mercado nesta quinta (3). Trata-se de um tweet em que a petista critica a decisão do Conselho de Administração da estatal de distribuir dividendos bilionários aos seus acionistas, conforme anunciado no mesmo dia.
Passada a eleição volta a sangria na Petrobras. Estão preparando a distribuição de $ 50 bilhões em dividendos. Não concordamos com essa política que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece acionistas. A Petrobras tem de servir ao povo brasileiro
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) November 3, 2022
Para os analistas, a declaração representa mais do que uma posição pessoal, antecipando uma possível abordagem da nova gestão em relação à estatal nos próximos anos. Vale lembrar que Gleisi Hoffmann é próxima de Lula e participa ativamente das negociações envolvendo o processo de transição do governo. Seu nome também está cotado para o Ministério da Casa Civil.
O temor é de que a Petrobras retorne ao período nebuloso que enfrentou sob o comando do PT, sobretudo nos governos Dilma. Naquele período, decisões tomadas pelo Conselho de Administração, majoritariamente controlado pelo seu principal acionista, que é o governo federal, levaram a companhia a um tombo histórico.
A perda de bilhões de reais em projetos de refino que tinham lógica política, e não econômica, é talvez o maior exemplo da irresponsabilidade administrativa. A este fator, porém, somam-se as descobertas da Operação Lava Jato e o mergulho do petróleo no último trimestre de 2014, obrigando a empresa a fazer baixas bilionárias em projetos de exploração.
Ainda com relação à Lava Jato, o mercado lembra sem nenhuma saudade do loteamento de cargos, que desembocou nos esquemas de corrupção, desvios de recursos e lavagem de dinheiro. Tudo com a participação de empreiteiras, funcionários da própria Petrobras, operadores financeiros e agentes políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da companhia.
O resultado catastrófico pôde ser auferido nos balanços de 2014 e 2015, com um rombo de mais de R$ 50 bi acumulados em prejuízo. Também em 2015, os papéis sofreram queda superior a 30% e o valor de mercado da Petrobras ficou abaixo dos R$ 100 bi, mesmo nível de 2004. Em 2022, para se ter ideia, seu valor de mercado atingiu recorde nominal de R$ 527 bi.
O ressurgimento da Petrobras
A mudança teve início em 2016, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a posse de seu vice, Michel Temer. Com propostas mais alinhadas ao mercado e Henrique Meirelles à frente da Fazenda, o novo governou colaborou para a reconstrução das expectativas do mercado.
Uma de suas primeiras medidas foi a adoção da política de Preços de Paridade Internacional (PPI), à qual se atribui parte do sucesso alcançado pela companhia em anos recentes. O PPI estabeleceu os custos de importação, a exemplo de transporte e taxas portuárias, como principais referências para o cálculo dos combustíveis.
A nomeação de Pedro Parente para a presidência da Petrobras foi considerada outro acerto. Parente havia sido ministro das pastas de Planejamento, Minas e Energia e da Casa Civil no governo FHC. Também foi no governo Temer que a chamada Lei das Estatais, que define regras para nomeações de presidentes, diretores e conselheiros, acabou sancionada.
Nesse sentido, a transição para o governo Bolsonaro, em 2019, foi tranquila. Mesmo porque a visão de Paulo Guedes, o “superministro” da Economia, sobre a Petrobras acompanhava a mesma lógica da gestão anterior. Para o mercado, porém, houve ainda a promessa de privatização da empresa. Apesar das dificuldades de primeiro mandato, o cumprimento da promessa era esperado em caso de reeleição de Bolsonaro, o que não aconteceu.
Agora, com a volta do PT e muitas questões a serem respondidas pelo presidente Lula sobre como pretende lidar com a Petrobras, o sentimento é de insegurança. Sabe-se, pelo discurso do novo governo, que a tendência é de uso social da empresa e fim do olhar privilegiado aos acionistas, em prol de novos programas de investimento. A preocupação gira em torno da possibilidade de redução do retorno em relação ao patrimônio líquido. Especialistas acreditam, inclusive, que a aprovação do pagamento de dividendos aos acionistas nesta quinta (3) pode ter sido a última notícia do “namoro” do mercado com a empresa. Por tudo isso, o futuro é incerto.
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