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O Open Banking poderá turbinar a relação do correntista com o dinheiro

Em tradução livre, open banking significa banco aberto

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Open banking: oportunidade ou ameaça?

Em 2020, o Pix trouxe uma modernização importante para o sistema financeiro do Brasil. Mas nada promete ser tão transformador quanto o open banking: o conceito estabelece que cidadãos e organizações são detentores de seus dados bancários e, por isso, podem compartilhá-los com instituições de sua escolha.

O que há de transformador nisso? Muita coisa. Pode-se esperar que, quando totalmente implementado, o open banking gere mais concorrência entre bancos, facilite a aquisição de crédito, torne serviços financeiros menos burocráticos e favoreça o surgimento de fintechs dos mais diversos tipos.

Mas o que é open banking? E o mais importante: como esse conceito pode promover tantas mudanças? É o que você descobrirá nos próximos parágrafos.

O Open Banking poderá turbinar a relação do correntista com o dinheiro

Open Banking

De acordo com o Tecnoblog, logo no começo de uma live transmitida em 1º de fevereiro de 2021, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, declarou que o objetivo da instituição com o open banking é “tornar o sistema financeiro nacional mais eficiente, moderno e promover a democratização de serviços financeiros por meio da tecnologia”.

Isolada, a frase pode soar como um discurso meramente formal, sem eficácia no “mundo real”. Na verdade, a fala de Neto se encaixa com precisão nos efeitos possíveis e esperados do open banking.

Em tradução livre, open banking significa banco aberto. A expressão em inglês foi adotada por aqui porque o conceito foi importado. No Reino Unido, por exemplo, o open banking já é realidade (embora de um modo ainda um tanto tímido) e países como Alemanha, Canadá, Estados Unidos e Japão já conduzem projetos sobre o assunto.

Formalmente, o Brasil iniciou a sua implementação do open banking em quatro fases. A primeira teve início em 1º de fevereiro e, não havendo intercorrências, a última passará a valer em 15 de dezembro de 2021 (entraremos no cronograma ainda neste texto).

O seu desconfiômetro deve estar apitando neste momento, mas, acredite, isso é bom. De modo geral, o sistema financeiro do Brasil é muito robusto, mas também é engessado, apesar dos avanços proporcionados por fintechs, bancos digitais e, mais recentemente, o Pix.

Há uma grande expectativa de que, com o open banking, as amarras restantes no sistema serão desfeitas, estimulando a concorrência entre instituições bancárias, abrindo espaço para o surgimento de novos serviços e, principalmente, dando ao cliente mais poder de decisão.

Bancos e fintechs

Para se ter ideia, em conversa com o Tecnoblog, Bruno Diniz, líder na América Latina da Financial Data & Technology Association (FDATA) e autor do livro O Fenômeno Fintech, explicou que essa mudança poderá ser muito impactante para os bancos tradicionais, pois eles foram, por muito tempo, protegidos por barreiras de entrada de ordem regulatória e tecnológica. Só nos últimos anos houve a flexibilização que deu espaço às fintechs:

Os bancos vão ter que assumir uma postura muito mais proativa. Eles vão ter que pensar em novos instrumentos e formas para manter o cliente. (…) Hoje já temos uma progressão, mas, com o open banking, teremos mais um nivelamento de forças competitivas.

Pense no open banking como um conjunto de regras, procedimentos e tecnologias que padroniza a troca de informações financeiras, não como um sistema único. A padronização faz as instituições conversarem na mesma língua, assim, o risco de problemas diminui e a eficiência do setor aumenta.

Vamos a um exemplo. Suponha que você tem uma conta no banco X há dez anos e queira mudar para o banco Y. O problema é que, neste último, você vai ter um limite de crédito menor, pois o seu relacionamento com a instituição acabou de começar.

Histórico compartilhado

Mas, graças ao open banking, você pode compartilhar seu histórico de transações do banco X com o banco Y de modo rápido e fácil, afinal, ambas as instituições seguem o mesmo conjunto de regras e procedimentos para tornar esse tipo de operação possível. O banco Y poderá então usar o seu histórico no banco X para te oferecer um limite de crédito maior.

“Ah, mas eu não tive um bom relacionamento com o banco X, por isso quero sair de lá”. Tudo bem, você não é obrigado a fornecer seu histórico ao banco Y. A decisão é sua. O próprio Banco Central diz que o open banking prevê que o cliente tenha controle sobre seus dados bancários, seja ele pessoa física ou jurídica.

Suponha, agora, que você quer ter conta nos dois bancos. Pois bem, o compartilhamento de dados propiciado pelo open banking também facilita a integração entre serviços diversos.

Nesse sentido, você poderá acessar as duas contas a partir do internet banking de qualquer uma delas, da mesma forma que você pode acessar outro serviço de e-mail a partir de uma conta no Gmail, por exemplo.

Mas as maiores expectativas giram em torno do iminente surgimento de novos serviços.

Diniz enfatiza que a troca ou integração de dados já é a base de muitos negócios, citando como exemplos plataformas como Uber e Airbnb, que baseiam parte de seus serviços nos mapas compartilhados pelo Google.

Para ele, chegou a vez do mercado financeiro seguir pelo mesmo caminho. Entre os novos serviços possíveis podemos pensar em:

plataformas que comparam seguros com base no perfil do consumidor;

ferramentas que ajudam uma empresa a encontrar o financiamento mais barato;

serviços que informam ao usuário qual cartão de crédito está com a taxa de dólar mais baixa em determinada data para transações internacionais;

aplicativos que analisam o padrão de consumo de uma pessoa endividada para orientá-la sobre como “limpar o seu nome”.

Note que esses são apenas alguns exemplos. As possibilidades são numerosas. Quer outro exemplo? Talvez você já tenha fechado uma compra via WhatsApp. E se você pudesse efetuar o pagamento sem sair da plataforma?

WhatsApp

O WhatsApp tentou ter uma função do tipo no ano passado, mas foi impedido por problemas regulatórios. Com o open banking, especialistas acreditam que a integração de serviços bancários com outras plataformas será apenas questão de tempo.

É a posição defendida por Ricardo Taveira, fundador da Quanto (fintech especializada em open finance), no Tecnocast 179:

O Banco Central está inclusive construindo uma nova [modalidade de] instituição regulada para poder desempenhar esse papel, que estamos designando de Iniciador de Transação de Pagamento ou ITP. Essa instituição não detém contas. Ela simplesmente tem o direito de acessar APIs de open banking ou do Pix para desempenhar esse papel de aplicação.

Então a ideia de que o WhatsApp possa entrar em sua conta bancária, mediante a sua autorização, e comandar um pagamento ou transferência sem que você tenha que entrar no aplicativo do seu banco não é uma esperança, é de fato o que irá acontecer.

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